Os saltos altíssimos e muito finos faziam com que andasse na pontinha dos pés de modo desequilibrado, cuidando para não cair. Passadas mais largas eram impossíveis pela saia muito justa, o que resultava em pequenos pinotes.
Em tons de primavera, leves babados na barra da saia ondulavam na brisa da praça, que escurecia ao final da tarde. Oscilando de lá para cá, a bolsa a tiracolo, os cabelos loiros cuidadosamente penteados para trás, o halo de perfume.
Vestida para festa.
Aos pulinhos, corria atrás do homem à sua frente que, sem um olhar ou mão estendida para sustentá-la em um possível tombo na calçada, entrou no carro.
Ela hesitou por alguns segundos e, em seguida, com um rápido impulso deu a volta no carro e se espremeu para caber na fresta semiaberta no espaço estreito entre os dois veículos estacionados.
Passei por ela e procurei seus olhos, na tentativa de lhe enviar um sinal, qualquer que fosse.
Não me olhou, não me viu, não procurou meu olhar, ocupada em se esgueirar para dentro do carro.
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Quanto tempo é necessário para percorrer a rota entre o amor e a indiferença?
Querida Sylvia. Gostei desse seu conto en passant.
Um sonho que nasceu, viveu um breve tempo e se apagou … de leve …
Sylvia, que pérola: “Quanto tempo é necessário para percorrer a rota entre o amor e a indiferença?”
Quanto tempo? Será só o tempo que faz o amor entrar na rota da indiferença?