No piso de mármore branco, um longo fio de cabelo negro.
Espesso, forte, brilhante, maleável. Virgem.
Sozinho, mas não solitário, apenas desgarrado.
Sabe de onde vem, orgulhoso da estirpe. Tem história, tem passado, tem futuro, projeto e coragem.
Resistiu o que pode, um dia deixou-se aparar. Não riscava mais o chão, apenas pequenas lascas que se espalhavam aqui e acolá.
Ainda destemido, tinha a força de sempre, o mesmo destemor, certo desassossego, que não conseguia perceber.
Deixou-se alongar.
Voltou a riscar o chão em um longo fio cor de chocolate dourado, mais tarde, cor de outono, mais tarde ainda, vermelho fogo, tempos depois iluminou com cor de primavera.
Perdeu a virgindade, a espessura, o brilho natural, o movimento.
Na pedra de mármore negro, um longo fio de cabelo branco.
Linda metáfora da passagem do tempo. É… ele não para,
Pois é, querido, não para, não para…só para quando a gente parar.
Beijo.
Muito lindo este texto-poema, “Um fio de cabelo”. Uma vida inteira se passa nele. É impressionante como tudo vai acontecendo e mudando… Até a cor do chão. É um dia… o movimento cessa.
Estamos falando da “morte”… Que não pode ser falada… Aquela live sua, de Carla, e de uma outra moça, da qual não me lembro o nome. Que importante poder falar.