“Seria essa a única solução?”, nos perguntávamos quando passamos por uma senhora sentada à sombra de uma árvore lendo placidamente um livro. Parecia ter em torno de oitenta anos, uma postura ereta e jovial, muito bem vestida e um sorriso no rosto. Passei por ela, sorri, ela retribuiu, e eu disse: que delícia ver alguém lendo um livro com tanto prazer.
Continuar lendoDe Dentro do Espelho nº4,
poema de Carlos de Castro
Ouve pouco, fecha-se em si mesmo – mesmo que portas se fechem, ouve
Mentes enrijece, atrofia, mata – mata adentro, espia todos os entes
Continuar lendoMUITO MAIS QUE BRINCOS, PULSEIRAS E SAPATOS,
por Luciano de Castro
Cuidado, contém ironias!
Está em todos os jornais, e é revoltante como Madame Fleurie vem tendo sua honra enxovalhada nas últimas semanas. Toda essa avalanche de matérias difamatórias surgiu após uma declaração da servidora numa reunião do CSJE —Conselho Superior de Jurisconsultos Estaduais.
Continuar lendoLápis de cor, por Leonardo Quindere
Não era muito dinheiro, ela podia comprar, tinha os seus guardados. Não era baratinho também, mas o menino merecia. Ia demorar pra poder usar, mas era um sonho aqueles lápis, vinham em uma caixa de metal com cada um desenhado na capa. O patrãozinho saberia fazer desenhos bonitos com eles, coloridos. Suas mãos agora duras não dariam conta de pegar num lápis, faltavam-lhe firmeza e destreza.
Continuar lendoTACITAMENTE,
crônica de Luciano de Castro
—Senhor Ronaldo, pode entrar, por gentileza. — Ah, obrigado. Hoje foi rápido, hein! —Sim. O Dr. Marcondes está aguardando o senhor. Segunda porta à direita.
Continuar lendo#históriasdaBlanche
O DROMEDÁRIO BAILARINO,
Blanche de Bonneval
… quando vi, de repente, um enorme dromedário aparecer na minha frente, saído do nada. Ele estava babando muito e literalmente dançando, dando voltinhas, cruzando as patas, escorregando no asfalto e dando saltos, antes de cair, levantar e recomeçar suas piruetas.
Continuar lendoVou te contar, crônica musical de Carlos de Castro
A história da letra de Wave é conhecida, mas não custa relembrar. Tom Jobim havia composto a música e pedira a Chico Buarque para fazer a letra. Ocorre que havia um prazo para entregar o trabalho: seria tema de uma novela. O prazo se esgotando e nada do Chico entregar a letra. Quando Tom faz uma última cobrança, Chico avisa que ainda não conseguira fazer a letra, mas já tinha o primeiro verso: “vou te contar”.
Continuar lendoBranco e Preto,
poema de Eder Quintão
Tua brancura
Como de flores
Nesta alvura
Exala odores
E cores reflete
Da pele pura
Que te reveste
De candura
Mas tua pele escura
Absorve as cores
E nesta labuta
Emana suores
Na dura luta
Da desventura
Que te enluta
Preta, pobre e puta
Continuar lendoPODER DE MUITAS,
crônica de Lilian Kogan
A manicure perguntou apontando a caixa de esmaltes:
– Qual cor gostaria?
As opções eram muitas. Eu ia levantando os frascos e lendo o nome das cores, todos muito poéticos, até que me deparei com um chamado: “Poder de Muitas”.
Continuar lendoO desespero do escritor
por Lilian Kogan
Vou pro Word em busca do texto e qual não é minha surpresa ao deparar com todo meu arquivo em branco. Começa a busca frenética, a cabeça a mil tentando lembrar onde poderia estar. Tento de várias formas, buscando pela palavra central, ou pela última, nada. Volto pros backups, tudo ok e nada no Word. Tento outro texto mais recente. Zero! As pastas vazias!
Continuar lendo#sextadepoesia
PRECE, UMA MAIS,
por Luciano de Castro
Senhor/dai-me um pé carregado
de esperanças maduras/dai-me o caminho da casa de minha vó/dai-me o pedaço de inocência que esqueci lá em Minas/dai-me um verso de Adélia Prado pra eu me aconchegar e chorar
#autoraconvidada
Luciana Assunção, em Psicoanálise
Poderia fazer uma coleção interminável de canecas e xícaras. /
Descobri que não gosto de quadros sem título./
O minimalismo não me afeta./
Prefiro os paradoxos da arquitetura bruta/ brocada de pensamento barroco.