(Para Bernardo P. Quintão)
Tece criança uma prece/Ao sol que paira perene/Grata quando amanhece/À luz que fornece solene/Sempre que à terra desce/E a noite logo esmorece
#avozices #essesnossosnetos
Bye bye vesícula biliar, por Pricila Marchese, nossa autora convidada
A finitude me perseguia. Comi a última bolacha do pacote. Judith, a gata, fez companhia durante minha caminhada na esteira, com os olhos fixos e apaixonados como nunca. Terminei algumas crônicas que estavam em andamento . Será mesmo que vou desta para melhor? Chegando ao hospital, fomos encaminhados ao quarto.Coloco aquela camisola que mais parece o traje perfeito para a entrada no reino dos céus.
Continuar lendoMoça branca da cidade, por ELISABETH FERRONI, nossa autora convidada
Wekanã tenta mergulhar a cabeça, limitado pelas boias de braço que coloco todas as manhãs, receosa de que meu filho se afogue em mar sem ondas. O esforço vale a pena pelo sorriso que me devolve. Pele morena avermelhada, olhos grandes pretos, cabelo preto liso, franja curta. Corte tipo tigela, era como eu e minhas colegas de faculdade costumávamos chamar aquelas cabeças indígenas na primeira vez que cheguei por aqui.
Continuar lendoPOR QUE ESCREVO? por Lucia de Araújo Cid, nossa autora convidada
Escrever é amplo, é fundo, é insondável. Escrever é cachoeira caudalosa se rasgando entre as pedras até chegar ao remanso calmo e translúcido. E depois se debater em nova queda e se ferir, se depurar em destino certo. Escrevo porque quero cuspir a faca da boca e trocá-la pela delicadeza da borboleta pousada no nariz da criança.
Continuar lendoESQUELETOS NO ESTACIONAMENTO, uma história de Blanche de Bonneval
Uma dezena de esqueletos humanos foram encontrados durante as obras de ampliação do estacionamento. “Tinha antigamente aqui um cemitério?” Perguntei a Abbo, o meu chefe dos serviços gerais. “Não senhora,” respondeu Abbo. Esses corpos devem ter sido enterrados aqui durante a guerra civil de 78/82. Teve combates encarniçados nessa área e morreu muita gente que foi enterrada onde faleceu. Eu sabia que muitos corpos foram sepultados do outro lado do jardim e – não quero assustá-la – outros tantos também foram enterrados ali atrás…
Continuar lendoIguais ante a lei, tabela científica de Eder Quintão
A tabela “científica” mostra que a lei é notavelmente igual para todos, tanto assim que, embora sejam identificados como eleitores bastante diferentes – no sentido de que não votam nos mesmos candidatos – eles são muito semelhantes em alguns pontos (mostrados em “bold”), obviamente cruciais, o que é fundamental para melhor distingui-los. Isso fica muito claro nos exemplos compilados na tabela abaixo salientando a irrelevância das diferenças frente ao império da igualdade que os aproxima tanto (asterisco no rodapé, embora menos relevante, no item que permite distingui-los mais claramente).
Continuar lendoA VISITANTE, conto de Zulmara Salvador
– Uai. Todo mundo tem meio medo da gente, da minha cara sem dentes, do cachorro sarnento.
– Ele morde?
– Não. O coitado nem tem mais dente. Que nem eu.
– Pena. Cachorro sem dente sofre mais que gente. Mais que gente sem dente.
– Aí a senhora falô coisa certa, viu? Eu me viro. Ele fica lambendo os osso que o Freire dá, num desespero.
CONTRAFACE, poema de Luciano de Castro
contraface con.tra.fa.ce
nome feminino
1. lado oposto à face frontal
2. superfície que se situa no lado oposto ao que se observa; reverso
3. figurado aquilo que é oposto a; contrário
4. figurado parte de algo que está oculta ou escondida
Dois poemas de amor, por Silvia Ancona Lopez
Os vinte anos que juntos vivemos
deixaram em mim uma marca que é tua,
pois vezes há que já não sei
se o que sinto, sinto porque é meu
ou se tenho um sentimento que é teu.
Às vezes eu volto,
Regina Valadares conversa com o Rio de Janeiro
sobre amores e fantasias
E quando vejo aquela paisagem, parece que vira uma chave dentro de mim. Eu volto. Mudo de alma. Volto. E voltar é muito bom. Mesmo quando não existe mais o que deixei. Mesmo quando não existe mais aquela que partiu. E lá vem aquele sorriso bobo, aquela alegria saltando dos olhos. O Cristo lá longe, o Pão de Açúcar ali e a freada louca do avião…
Continuar lendoÍMPAR, poema de Tita Ancona Lopez
Sou o ímpar que restou
do par que pouco fomos,
o sorriso que sobrou
do sonho que sonhamos.
Avenida Baxter,
crônica irônica e indignada
de Eder Quintão
Para os que nunca ouviram dela. Não era no exterior: era aqui mesmo, e longa, contornando dois corredores do hospital. Apensos aos postes hospitalares, refletindo
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