Urdidura do destino. E nela, o cansaço pela busca de moradia. Quando dobraram a esquina, o alívio. A menina foi a primeira a avistar a placa na casa: aluga-se. Paredes descascadas, vidros quebrados, algumas manchas de mofo, ficava junto a um córrego. Dava para ver, ao fundo, o pomar abandonado e a bananeira com cachos maduros.
Continuar lendoM.
e as manchetes do dia,
por Bettina Lenci
Declarei o meu voto e ouvi silêncio. Silêncio que durou dias. Minha impaciência começou a germinar e preciso admitir, senti emergir uma vontade de brigar, pressupondo já saber qual seria a resposta de M. Talvez ele não a tenha dado para não perder uma cliente, talvez por achar que me ofenderia, que eu o censuraria.
Continuar lendoOs gêmeos, de Leonardo Quindere
Eram gêmeos. Na chegada da escola já chamavam a minha atenção. Olhava, uma certa inveja, ficava pensando, o que seria ter um duplo de mim?
Considerava uma ideia genial ter sempre alguém do mesmo tamanho pra brincar e, mais ainda, igual e com os mesmos gostos, a mesma disposição.
Continuar lendoA FACADA DESFERIDA DO FUTURO,
por Blanche de Bonneval
Foi aí que lembrei onde vira esta paisagem. Ela me aparecera num sonho que tivera quando eu tinha doze anos (eu agora tinha vinte e seis). E esta recordação parecia aumentar ainda mais o meu medo. Sentia-me desorientada, sem entender as causas do meu pavor ou saber o que fazer para me acalmar. Pensei que se tentasse lembrar o resto do sonho ficaria mais tranquila.
Continuar lendoLilian Kogan às voltas com sincronicidades
Histórias como essas sempre me fascinaram, eu tenho uma coletânea delas. Quando menina, as chamava de magia do destino, e, no fundo, de uma forma mais simples, acho que é isso mesmo; uma força do universo atua para que as pontas soltas se juntem. Porque se não pegássemos o elevador naquele exato momento, não estivesse o médico a passar por lá naquele exato momento, nada disso teria acontecido. Que viagem é essa no tempo?
Continuar lendoO ÚLTIMO TRIBUNAL, de
Carlos Schlesinger
Então, senhores, aqui me tens. Prostrado não fico, mas respeitoso. Não sei se estou na frente de YWH, Jesus, Alah, Ogum, Vishnu ou Krishna, ou todos eles. Nunca os reconheci, não seria aqui que por falsos temores o faria. Mas se é certo que deva ser julgado, ora, convoco a mim mesmo por testemunha e inicio.
Continuar lendo#autoraconvidada
Cristina Prandini em A outra face do medo
A origem do pesadelo está/
bem no centro do fundo do mar,/
onde mora um homem muito grande,/
a ponto de precisar se encolher/
para ali ficar.
A casa da memória e a ampulheta na vitrine, por Bettina Lenci
Volto ao conteúdo das minhas recorrentes reflexões sobre o Tempo “que passa.” Que ele passa, passa mesmo, mas o coloco entre aspas porque no passar do tempo o mais comum é ouvir não só como passa rápido mas como aceitar, em tempo real, no corpo, o fenômeno da finitude Na verdade, sua percepção aguda nos atravessa enquanto temos a certeza de que existimos. Aceitá-lo como passageiro equivale a aceitar a nossa existência neste mundo.
Continuar lendoA Nova Internacional,
(Por causa dos tempos)
de Eder Quintão
O capitão /Se foi /Embora tarde /E se foi um /Por quê /Não vai /Mais um /Indo com ele /Os demais /E não reste /Nenhum mais /Para traz?
Continuar lendoCalíope, conto-memória de pátio de colégio, por Leonardo Quindere
Não fica perto que ela é louca, falou uma colega que passou do meu lado. Eu continuei ali tentando ajudar a passar o cadarço com a ponta esgarçada pelo buraco do tênis. Se você ficar perto vai ficar louco também, insistiu. Eu acabara de molhar a ponta do cadarço na boca pra ajeitar os fios e ajudar a passar pelo buraco, senti que já estava molhado….
Continuar lendoVAGARINHO, ou uma quase história de amor, por Lourdes Gutierres
“O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar.”
Carlos Drummond de Andrade
O Menino e o Cão, por Carlos de Castro
Paro no engarrafamento do Glicério: nada a fazer, esperar desentupir contemplando o chuvisqueiro que segue impassível. É quando alguns sons agudos conseguem invadir minha nave. Vem dos baixos do viaduto. Um filhote de cachorro latindo e correndo com uma criança maltrapilha de 3 ou 4 anos. Brincam felizes, alheios à manada de veículos que rasteja ao lado. A felicidade existe, vive de instantes, está ali a prova.
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