Pela pinguela oscilante sobre águas turvas, o menino se equilibra carregando o balde. A mãe espera. Vem balançando, com o balde na cabeça. Olhos abertos direto no lodo. A mãe espera. Ele respira descompassado. O lodo ondeia por baixo da pinguela. A mãe espera. O dorso do bicho raspa na pinguela.
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La Primo e o cigarro Galaxy, por Lilian Kogan
Lá pelo final dos anos 70, uma modelo tomou um espaço vultoso nas passarelas e na mídia. Curvilínea, com um corpo escultural, muito diferente dessa estranha beleza da magreza em moda nas últimas décadas. Longos cabelos castanhos, soltos de forma despretensiosa, pele dourada pelo sol, pouca maquiagem, sorriso lindo. Transpirava sensualidade, frescor e saúde.
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ENTRE FARDAS E DENTES,
mais uma história de Blanche de Bonneval
Quando quis abrir a porta, fui atacada por uma matilha de cães vadios que, famintos, se atiraram contra o carro, tentando me morder pela janela e a porta entreaberta. Estes rafeiros, beges, de pelo curto, com patas e pescoços longos eram extremamente perigosos e não hesitavam em estraçalhar – e devorar – homem ou animal. Não era à toa que os militares saíam todas as noites para matá-los a tiros de metralhadora do alto dos seus Toyotas.
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Prospect Park, por Leonardo Quindere
Na saída da estação “Church” tomei um susto, todos os meus sinais internos de alarme dispararam, sigo ou volto? Era por volta do meio-dia, estava claro, mas senti que talvez tivesse descido na estação errada. Os alarmes, construídos pelos anos de vivência na cidade grande e por preconceitos, dispararam quando vi pessoas de várias etnias numa rua de comércio movimentada e com uma predominância de pessoas pretas. E agora? Fico ou vou?
Continuar lendo#memórias #encontros
Que mistério tem Clarice? por Carlos Schlesinger LIGUE O SOM
Sentada na varanda, com um lenço na cabeça a disfarçar as queimaduras que sofrera por um acidente doméstico, ali estava ela. Uma mulher comum, tomando chá, com bolo ou biscoitos, observada por um rapazola pretensioso.
Continuar lendo#boasleituras
Velhxs, por Bettina Lenci
Chova ou faça sol, os não velhos terão que aprender a conviver com o tempo, lembrança nada agradável porque sempre será o passado e… sem retorno! Velhos vivem a perda enquanto lutam para viver o presente com dignidade!
Continuar lendo#CUIDADO, POESIA
É bom saber! por Tita Ancona Lopez
Nada melhor do que sair fora de qualquer situação opressiva e ganhar o mundo.
Então, carregá-lo, com muito cuidado;
Não se pode esbarrar nem derrubar.
O mundo, se cai, despedaça assim como vidro, em mil caquinhos.
Encontros com Nise da Silveira,
por José Carlos Peliano
Segui o que queria e ganhei o que alumia. Foi desse jeito que cheguei a Nise da Silveira e dela fiquei amigo por alguns anos de encontros, aprendizados e encantamentos.
Continuar lendoAquele era o décimo cigarro…
por Regina Valadares
Aquele era o décimo cigarro. Se continuasse assim morreria de câncer antes do filho se formar. Só mais esse, decretou, enquanto olhava a tela em branco do computador. Escreveria sobre a falta de inspiração, embora isso já tenha sido enredo de filme, de livro, de peça. Acabara de ler Infância do Graciliano Ramos. Estava humilhada. Precisava encontrar a sua voz.
Continuar lendo#filmesparamaiores
Categoria B, por Bettina Lenci
Tenho como passatempo preferido assistir a filmes da categoria B. Chineses que contam, em dezenas de capítulos, brigas de poder nas eras imperiais. Os quimonos bordados e coloridos, joias primorosas de flores em ouro e pedras preciosas fincadas nos cabelos negros deles e delas. A comida sorvida elegantemente, a finura e elegância absurda, contrastando com o povo, relegado, maltrapilho e faminto.
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Uma feliz jornada desde que me diplomei médico, por Eder Quintão
Nascido em 1933 tive apendicite aos 17 anos de idade. Se tivesse nascido no século 19 teria morrido muito antes do século seguinte. Sim, claro, continuaremos a morrer, mas nosso país e o mundo estão cada vez mais cheios de “jovens” com mais de noventa anos e nos próximos cinquenta anos serão poucos os jovens trabalhadores para sustentar-nos.
Continuar lendo#reflexões
O DOLCE FAR NIENTE DA INEGIBILIDADE
por Luciano de Castro
Desde o dia 30/06/2023, uma palavra paroxítona, pentassílaba, e acentuada por ser terminada em L, passou a ser uma celebridade vocabular. I-ne-le-gí-vel: este foi o vocábulo mais lido, pronunciado, digitado e comentado na última semana pelos quatro cantos do país — e continua em alta, virou trending topic.
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