Por um fio de cabelo, a vida da iraniana Mahsa Amini foi apagada. Um espancamento brutal pela “polícia dos bons costumes”. Tinha vinte e dois anos. Morreu por uma mecha de cabelo que ficou de fora do véu islâmico. (…) o lembrete escrito a sangue fresco para que todas as mulheres daquele país prestem atenção quando uma dentre elas não cobrir seus cabelos
Continuar lendoSonhos, por Leonardo Quindere
Logo cedo, ali pelos dezoito anos, foi selecionado entre vários meninos para ser auxiliar de sapateiro. Parecia um emprego simples, mas não era. A sapataria era de luxo e pagava três vezes mais do que qualquer outra. O negócio era sólido como uma rocha e prometia vida e velhice seguras. Parecia pouco para o menino Eustáquio que gostava de estudar, ler e sonhar.
Continuar lendoBettina Lenci, em Portugal:
Um oceano
“O Brasil foi colônia de Portugal por 400 anos”, penso, ao deitar meu olhar no horizonte. Acomodada sobre uma pedra cavada pelo vento, encimada sobre uma rocha, contemplo ondas espumosas a bater na muralha de pedra cuja altura pode induzir a um suicídio, por tão sublime visão.
Continuar lendoTropicão,
por Carlos de Castro
Um banco no calçadão, O Velho e o Mar, a vista de Ilhabela
São Sebastião, rua da Praia. O fato é que Amâncio chegou cedo. O comércio só abre às 9:00. Não deu oito e meia ainda. Huum, melhor esperar, caçar um café, alguma coisa para ler – existiriam bancas de jornal ainda por aqui? Opa, olha só! Um banco vazio no calçadão…Sentou-se.
4 da manhã,
por Regina Valadares
4 da manhã, não ia abrir os olhos. Não ia olhar o relógio ou acender a luz. Ia fingir que estava dormindo. Não consegui. Acendi a luz. Será que rezar adianta? Mesmo que não, eu rezo. Todos os dias. Às vezes várias vezes. Incomodo Deus com a maior liberdade.
Continuar lendo#resoluçõesdeanonovo
Rumo do fumo,
Eder Quintão
Eu vivo preocupado/Pois raramente bebo/E jamais estressado/Meu fim não concebo/É que ignoro meu fado/Neste corpo tão sarado/Colesterol normalizado/Com pulmão exercitado/Vivo assim perfeitamente/Com “check up” bem feito/Corro bem diariamente/E pratico nado de peito
Continuar lendoReparação
Lourdes Gutierres
Desse tempo que passou/Guardo alguns fragmentos/Sumaúma em chamas/Ossos de onça/Cinzas de tamanduá/E a mentira atroz: /− tudo preservado/− nenhuma devastação.
Continuar lendoO PACTO, de Lourdes Gutierres
#celebração
Urdidura do destino. E nela, o cansaço pela busca de moradia. Quando dobraram a esquina, o alívio. A menina foi a primeira a avistar a placa na casa: aluga-se. Paredes descascadas, vidros quebrados, algumas manchas de mofo, ficava junto a um córrego. Dava para ver, ao fundo, o pomar abandonado e a bananeira com cachos maduros.
Continuar lendoM.
e as manchetes do dia,
por Bettina Lenci
Declarei o meu voto e ouvi silêncio. Silêncio que durou dias. Minha impaciência começou a germinar e preciso admitir, senti emergir uma vontade de brigar, pressupondo já saber qual seria a resposta de M. Talvez ele não a tenha dado para não perder uma cliente, talvez por achar que me ofenderia, que eu o censuraria.
Continuar lendoOs gêmeos, de Leonardo Quindere
Eram gêmeos. Na chegada da escola já chamavam a minha atenção. Olhava, uma certa inveja, ficava pensando, o que seria ter um duplo de mim?
Considerava uma ideia genial ter sempre alguém do mesmo tamanho pra brincar e, mais ainda, igual e com os mesmos gostos, a mesma disposição.
Continuar lendoA FACADA DESFERIDA DO FUTURO,
por Blanche de Bonneval
Foi aí que lembrei onde vira esta paisagem. Ela me aparecera num sonho que tivera quando eu tinha doze anos (eu agora tinha vinte e seis). E esta recordação parecia aumentar ainda mais o meu medo. Sentia-me desorientada, sem entender as causas do meu pavor ou saber o que fazer para me acalmar. Pensei que se tentasse lembrar o resto do sonho ficaria mais tranquila.
Continuar lendoLilian Kogan às voltas com sincronicidades
Histórias como essas sempre me fascinaram, eu tenho uma coletânea delas. Quando menina, as chamava de magia do destino, e, no fundo, de uma forma mais simples, acho que é isso mesmo; uma força do universo atua para que as pontas soltas se juntem. Porque se não pegássemos o elevador naquele exato momento, não estivesse o médico a passar por lá naquele exato momento, nada disso teria acontecido. Que viagem é essa no tempo?
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