­Yamamura, por Lilian Kogan 

Quando eu tinha uns 12 anos, Lilian, minha amiga e xará, veio com uma novidade incrível. – Vamos lá na loja Yamamura, quero te mostrar algo diferente que você vai adorar. Era o início dos anos 70 e da loja de lustres, que cresceu incrivelmente nos anos vindouros. Ficava numa rua entre a Rua da Consolação e a Avenida Angélica, era pequena e guardava um segredo bastante difundido na colônia nipônica, um cabelereiro no fundo da loja. É claro que precisávamos ir lá.

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#sobreliteratura
ESCRITORA EM CRISE, por Zulmara Salvador

Eu queria escrever um romance. É muito lindo romance…Mas me deu preguiça antes de começar, porque romance tem que ter o personagem principal, que transita por vários núcleos de outros personagens, e tem que acontecer um monte de coisas com o tal personagem e seus núcleos todos e, ainda por cima, tudo tem que fazer um certo sentido, mesmo que não tenha sentido nenhum, e os personagens têm que se relacionar e o sol tem que nascer e a lua tem que brilhar e passarinhos têm que cantar e o personagem tem que ter um cachorro, ou gato

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Clube dos Escritores 50+ Regina Valadares Sempre soube

#mães
Sempre soube, por Regina Valadares

A barra de chocolate Kopenhagen escondida na gaveta de camisolas. As garrafas de refrigerante Crush na porta da geladeira, o único refrigerante que eu detestava. O estalinho dos seus joelhos passando para ver se estávamos dormindo. O cigarro Charme repousado no cinzeiro. Os vestidos de poás. O barulho do salto dos seus sapatos. Os brincos de pérola. A bolsa recheada de bolsinhas, todas arrumadas por tamanho! Ah como eu gostava de mexer na sua bolsa!

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Clube dos Escritores 50+Zulmara Salvador Minha mãe

#mães
Minha mãe, por Zulmara Salvador

Antes de eu nascer, minha mãe não existia. Mas depois que eu nasci, vim a conhecê-la e ela passou a existir (para mim). Ela era um mundo inteiro de peitos, com leite quentinho e cheiro macio e pele doce e vozes amáveis. Só depois que eu nasci pude conhecer minha mãe, é claro. Gostaria de tê-la conhecido antes, para saber o que pensava, o que sentia, a quem amava e se me queria… Antes de eu ter nascido.

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Clube dos Escritores 50+ Paulo Akira Perfume de fruta

#mães
PERFUME DE FRUTA, por Paulo Akira Nakazato

– Preciso enganar o estômago. Me dá um pedaço. Mãe, não quer também? – olhei-a quieta na cadeira, com os olhos miúdos e as cãs bordando as orelhas com franjas de pensamentos. – Humm…? – Mãe, não quer mamão? – repeti. – Espera, né! – Ah, mãe, “otossan” não vai nem perceber. Tem tanta fruta no butchidã” que ele vai ter indigestão – respondi.

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Mudança, por Tita Ancona Lopez

Peguei a escova de dentes, mas deixei o vidro de shampoo e o sabonete líquido.
Propositalmente esqueci-me de um pé daquela meia branca com o desenho da Nike em azul.
Levei as roupas, mas deixei uma bolsa.
Os sapatos, levei todos.
Peguei meus papeis, minha caixa de recordações e os livros, porém, deixei dois, com frases marcadas e observações escritas a lápis, em muitas páginas.

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Clube dos Escritores 50+ Bettina Lenci Mundos Imagem gerada por IA

Os mundos de Bettina Lenci
ou 12 crônicas sobre notícias sem importância

Tenho escrito crônicas a partir de notícias pouco importantes, mas que, justapostas, talvez possam criar um terceiro ângulo ou uma nova conclusão sobre essas informações inúteis. Este jogo nasceu na tentativa de preencher os vazios da minha alma. Com esforço, busco recuperar algum sentido poético que esteja perambulando acima da realidade crua que passa ao meu lado, qual nuvem escura anunciando tempo de raios e trovoadas.

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Clube dos Escritores 50+ Carlos de Castro Grana

A força da grana, crônica de Carlos de Castro

– Você não estava sabendo? Só vamos ficar abertos até o final do mês.
A conversa se deu quando eu chegava a academia para um dos meus dois ou três treinos semanais. Me espantei quando vi um técnico desmontando o belo painel luminoso da entrada. Ao perguntar à recepcionista o que tinha acontecido, fui surpreendido com a resposta. Depois percebi que haviam colocado uma nota no quadro de avisos.
São Paulo se autodevora.

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Clube dos Escritores 50 mais Carlos Schlesinger Nossos herois - Imagem gerada por AI

Os heróis eram outros,
por Carlos Schlesinger

O nome era engraçado para crianças e adultos. Gagarin. Parecia brincadeira. E, naqueles dias, era o que se falava. Gagarin, um astronauta russo, de olhos rasgados, sorria após ser resgatado do primeiro voo de um ser humano no espaço. Os americanos ficaram furiosos e partiram para a competição. Abria-se nova página na Guerra Fria entre as superpotências, a corrida espacial. A guerra era acirrada e novos nomes surgiam e se incorporavam ao conhecimento popular, assim como as façanhas que cresciam a cada dia.

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