Todos temos nossas impressões machadianas. Como a minha. Quando trabalhava na Rockefeller University, em Nova York, na década de 1960, conheci a esposa de um estudante que se apresentou numa festa como sendo neta de Thomas Mann. Estudava literatura. Perguntou-me se conhecia o maior escritor da língua portuguesa, um tal “Mequeido”. Espantou-se muito quando respondi que não conhecia. Prudente, pedi que soletrasse “Mequeido”: era M-A-C-H-A-D-O!
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Francisco Rohan de Lima
Brás Cubas vive!
“Um dia de manhã…
pendurou-se me uma ideia no trapézio que eu tinha no cérebro”
Brás Cubas, in “Memórias Póstumas…”
Oração,
poema em homenagem
às vítimas da tragédia no Rio Grande do Sul,
por Eder Quintão
Por onde andas tu oh Noé?
Chamam-no do distante sul
Lá pela serra do rio grande
Onde o céu não anda azul
CARAMELO, por Lourdes Gutierres
Já não há mais gente por aqui, não há mais casas, só se enxergam os telhados.
E, em um deles, o cavalo sustenta seu corpo, tenta se equilibrar na superfície
inclinada, seu olhar se estende no mar barrento e, entre tantos objetos arrastados, o corpo de um homem segue inerte nos tropeços das ondas. A noite tinge de tristeza o coração do cavalo em cima do telhado, sente frio, fome, mas precisa estar atento, patas firmes, olhos abertos.
Yamamura, por Lilian Kogan
Quando eu tinha uns 12 anos, Lilian, minha amiga e xará, veio com uma novidade incrível. – Vamos lá na loja Yamamura, quero te mostrar algo diferente que você vai adorar. Era o início dos anos 70 e da loja de lustres, que cresceu incrivelmente nos anos vindouros. Ficava numa rua entre a Rua da Consolação e a Avenida Angélica, era pequena e guardava um segredo bastante difundido na colônia nipônica, um cabelereiro no fundo da loja. É claro que precisávamos ir lá.
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ESCRITORA EM CRISE, por Zulmara Salvador
Eu queria escrever um romance. É muito lindo romance…Mas me deu preguiça antes de começar, porque romance tem que ter o personagem principal, que transita por vários núcleos de outros personagens, e tem que acontecer um monte de coisas com o tal personagem e seus núcleos todos e, ainda por cima, tudo tem que fazer um certo sentido, mesmo que não tenha sentido nenhum, e os personagens têm que se relacionar e o sol tem que nascer e a lua tem que brilhar e passarinhos têm que cantar e o personagem tem que ter um cachorro, ou gato
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Filho duplo
por José Carlos Peliano
À Leonor Pereira Peliano, minha mãe
Esta mãe não me tomou pelas mãos
e me fez dono do mundo
que me veio pelos meus pés de vento
e olhos de tela de cinema
#mães
Dia das Mães em quatro estações,
por Eder Quintão
Na primavera
Com carinho dela
Fui nela
Concebido
E nasci
#mães
Minha mãe, Flora Machman, uma mulher universal
por Carlos Schlesinger
Amava os colares, os brincos e os sapatos. Estranhamente, amava o futebol, e nunca entendi na verdade essa paixão, que herdei. Amava as noites, as tardes de Teresópolis e suas montanhas, em cuja contemplação, menino, muitas vezes a surpreendi, olhando para o nada, sem dizer palavra e, certamente, exercitando sua prodigiosa mente.
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Sempre soube, por Regina Valadares
A barra de chocolate Kopenhagen escondida na gaveta de camisolas. As garrafas de refrigerante Crush na porta da geladeira, o único refrigerante que eu detestava. O estalinho dos seus joelhos passando para ver se estávamos dormindo. O cigarro Charme repousado no cinzeiro. Os vestidos de poás. O barulho do salto dos seus sapatos. Os brincos de pérola. A bolsa recheada de bolsinhas, todas arrumadas por tamanho! Ah como eu gostava de mexer na sua bolsa!
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Minha mãe, por Zulmara Salvador
Antes de eu nascer, minha mãe não existia. Mas depois que eu nasci, vim a conhecê-la e ela passou a existir (para mim). Ela era um mundo inteiro de peitos, com leite quentinho e cheiro macio e pele doce e vozes amáveis. Só depois que eu nasci pude conhecer minha mãe, é claro. Gostaria de tê-la conhecido antes, para saber o que pensava, o que sentia, a quem amava e se me queria… Antes de eu ter nascido.
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PERFUME DE FRUTA, por Paulo Akira Nakazato
– Preciso enganar o estômago. Me dá um pedaço. Mãe, não quer também? – olhei-a quieta na cadeira, com os olhos miúdos e as cãs bordando as orelhas com franjas de pensamentos. – Humm…? – Mãe, não quer mamão? – repeti. – Espera, né! – Ah, mãe, “otossan” não vai nem perceber. Tem tanta fruta no butchidã” que ele vai ter indigestão – respondi.
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