Se você recebe nossa newsletter mensal, sabe como a gente gosta de falar de livros. Nem sei se é possível alguém ser um bom escritor sem ser um bom leitor. Na última news, a partir da reportagem de Anna Virgínia Ballousier, Leia que eu te escuto, publicada na revista Quatro, Cinco, Um, falamos de leitura compartilhada, de ler em voz alta, de ler juntos.
Continuar lendoDos leques e ventos da memória, por Lilian Kogan
Recentemente num curso sobre a Princesa Isabel, a historiadora que nos dava aula mostrou um slide com um leque feito pela própria princesa. Na ponta de cada vareta, o rosto pintado de algum membro da família.
Se o leque fosse da minha avó paterna, alguns retratos estariam decapitados. Ela nunca aceitou a separação da filha. Dizia que ela merecia ser melhor tratada pelo ex-marido. Enquanto tia Rosa seguia tranquilamente sua vida de desquitada, minha avó ainda esbravejava.
Continuar lendoA HORA MAIS NEGRA DA NOITE,
por Blanche de Bonneval
Eu estava servindo no Tadjiquistão no auge da guerra civil. Havia combates entre as forças governamentais e os fundamentalistas islâmicos até na capital, Duchambé. O pessoal das Nações Solidárias estava proibido de sair de casa a não ser para ir trabalhar. Me congratulei de já ter feito o meu reabastecimento de gêneros alimentícios no outono em Tashkent, capital do país vizinho, o Uzbequistão, quando as estradas ainda eram praticáveis.
Continuar lendoDeu no jornal, poema de Eder Quintão
Foi hoje notícia
De muita tristeza
Morte atropelada
Na esquina, o lar
Onde foi achada
Famosa princesa
Autoproclamada
Afogado, pequeno conto de Tita Ancona Lopez
Lá se ia o tempo do afogar-se em sentimentos que, de tão fortes, o levavam ao fundo, enquanto se debatia, procurando emergir, sem êxito. Então, afogava-se e novamente se afogava, até que fugia de qualquer coisa que sentisse, só para que não lhe trouxesse o afogamento, a falta de ar.
Já lá ia o tempo pensou, satisfeito.
Que bom que já lá ia.
Uma lágrima, por Eder Quintão, a partir da composição de Modest Mussorgsky
Era uma lágrima
Nascida sofrendo
Desde sua partida
Logo se perdendo
Toda ressequida
Uma breve arqueologia do livro e o meu alumbramento, por José Carlos Peliano
Segundo essa interpretação, portanto, cada e todo livro é oferecido e trazido pela memória aos becos e ruelas da recordação e/ou da imaginação povoadas pela vida afora. Se vai ser levado ao público ou não depende de cada um. Seguindo adiante, vive-se dessa forma numa monumental biblioteca universal onde é guardada a memória expressa ou não de toda a existência da vida humana e do meio ambiente.
Continuar lendoBahia, por Carlos de Castro
Um sacolejo forte desmanchou o devaneio. Trechos esburacados da estrada tornaram a viagem mais lenta e sacolejante até o desembarque, horas depois. Na noite quente da Bahia, três jovens mineiros, mochilas nas costas. Uma rápida exploração do entorno, um lanche na padaria – regado a muita cerveja – e se instalaram numa pousada próxima à rodoviária. O dia seguinte era dois de fevereiro: festa de Iemanjá. Téo não fazia ideia do que o esperava.
Continuar lendoSONHO DE SOLIDÃO, por Bettina Lenci
Sente um ardor no sexo e o arrepio lhe toma o corpo, a boca seca e o coração acelerado. Sabe da dor da ausência que teria que superar, mas até hoje não dominara. Ao contrário parecia que se densificava a cada acordar do cochilo no jardim do asilo.
Continuar lendo#avozices
Sou avó há uma semana, por Regina Valadares
Sou avó há uma semana. E não chego aos pés da avó que tive. Olho pra minha netinha, aquela pessoinha mínima e penso na minha avó. Ah, como você adoraria a minha avó! Ela deixava faltar aula quando estava chovendo, fazia pudim de leite sem furinho e contava casos da África, lugar onde nunca foi, mas que me embalavam em aventuras maravilhosas.
Continuar lendo#avozices
Avó Mestra, por Carlos de Castro
Santana é nome de bairro, de linhas de ônibus, estação do Metrô, de cidades. Muitas cidades: Do Livramento, de Parnaíba, Feira de Santana. Conheci até a minúscula Santana da Ponte Pensa, lá para os lados do Rio Paraná. Está também no nome das pessoas, como Sérgio Santana, grande escritor brasileiro. Evidentemente nomeia a própria santa, embora a maioria das pessoas não se dê mais conta disso.
Continuar lendo#avozices
Minha avó, por Sylvia Loeb
Na casa dela é que aconteciam as coisas mais maravilhosas do mundo!
Minha avó tinha uma cama imensa, com lençóis perfumados e frescos. Eu adorava dormir com ela, que tinha cheiro de lavanda e era bem gordinha. Eu punha as pernas em cima do seu corpo e dormia no embalo da sua respiração.
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