Eu vivo preocupado/Pois raramente bebo/E jamais estressado/Meu fim não concebo/É que ignoro meu fado/Neste corpo tão sarado/Colesterol normalizado/Com pulmão exercitado/Vivo assim perfeitamente/Com “check up” bem feito/Corro bem diariamente/E pratico nado de peito
Continuar lendoReparação
Lourdes Gutierres
Desse tempo que passou/Guardo alguns fragmentos/Sumaúma em chamas/Ossos de onça/Cinzas de tamanduá/E a mentira atroz: /− tudo preservado/− nenhuma devastação.
Continuar lendoO PACTO, de Lourdes Gutierres
#celebração
Urdidura do destino. E nela, o cansaço pela busca de moradia. Quando dobraram a esquina, o alívio. A menina foi a primeira a avistar a placa na casa: aluga-se. Paredes descascadas, vidros quebrados, algumas manchas de mofo, ficava junto a um córrego. Dava para ver, ao fundo, o pomar abandonado e a bananeira com cachos maduros.
Continuar lendoConto de Natal, por Adília Belotti
#celebração
E lá vai o conto…. Era uma vez, num amanhã qualquer…uma mulher e um homem. Não, não são uma mulher e um homem, olha lá,
Continuar lendoPresença,
por Paulo Akira Nakazato
#celebração
Agora eu queria ter um menino
que me mostrasse os caminhos
de todas as verdades das flores,
e me descerrasse à vista as fartas cores
que há tempos eu venho ocultando
embaixo da máscara gasta e escura.
Agora eu queria ter um menino
que me pusesse na alma um destino
de só a ele servir, sem trégua ou descanso,
como monumento ao qual eu adorasse
vinte e quatro horas do dia, mas no final,
no corpo, nenhum sinal de cansaço.
Agora eu queria ter um menino
que me acordasse de súbito feito um sino
tocando ao amanhecer quente de verão
e me pedisse que lhe desse o pão
e o fruto que eu, por descuido e medo,
havia negado a mim mesmo quando pequeno.
M.
e as manchetes do dia,
por Bettina Lenci
Declarei o meu voto e ouvi silêncio. Silêncio que durou dias. Minha impaciência começou a germinar e preciso admitir, senti emergir uma vontade de brigar, pressupondo já saber qual seria a resposta de M. Talvez ele não a tenha dado para não perder uma cliente, talvez por achar que me ofenderia, que eu o censuraria.
Continuar lendoOs gêmeos, de Leonardo Quindere
Eram gêmeos. Na chegada da escola já chamavam a minha atenção. Olhava, uma certa inveja, ficava pensando, o que seria ter um duplo de mim?
Considerava uma ideia genial ter sempre alguém do mesmo tamanho pra brincar e, mais ainda, igual e com os mesmos gostos, a mesma disposição.
Continuar lendoA FACADA DESFERIDA DO FUTURO,
por Blanche de Bonneval
Foi aí que lembrei onde vira esta paisagem. Ela me aparecera num sonho que tivera quando eu tinha doze anos (eu agora tinha vinte e seis). E esta recordação parecia aumentar ainda mais o meu medo. Sentia-me desorientada, sem entender as causas do meu pavor ou saber o que fazer para me acalmar. Pensei que se tentasse lembrar o resto do sonho ficaria mais tranquila.
Continuar lendoLilian Kogan às voltas com sincronicidades
Histórias como essas sempre me fascinaram, eu tenho uma coletânea delas. Quando menina, as chamava de magia do destino, e, no fundo, de uma forma mais simples, acho que é isso mesmo; uma força do universo atua para que as pontas soltas se juntem. Porque se não pegássemos o elevador naquele exato momento, não estivesse o médico a passar por lá naquele exato momento, nada disso teria acontecido. Que viagem é essa no tempo?
Continuar lendoO ÚLTIMO TRIBUNAL, de
Carlos Schlesinger
Então, senhores, aqui me tens. Prostrado não fico, mas respeitoso. Não sei se estou na frente de YWH, Jesus, Alah, Ogum, Vishnu ou Krishna, ou todos eles. Nunca os reconheci, não seria aqui que por falsos temores o faria. Mas se é certo que deva ser julgado, ora, convoco a mim mesmo por testemunha e inicio.
Continuar lendo#autoraconvidada
Cristina Prandini em A outra face do medo
A origem do pesadelo está/
bem no centro do fundo do mar,/
onde mora um homem muito grande,/
a ponto de precisar se encolher/
para ali ficar.
A casa da memória e a ampulheta na vitrine, por Bettina Lenci
Volto ao conteúdo das minhas recorrentes reflexões sobre o Tempo “que passa.” Que ele passa, passa mesmo, mas o coloco entre aspas porque no passar do tempo o mais comum é ouvir não só como passa rápido mas como aceitar, em tempo real, no corpo, o fenômeno da finitude Na verdade, sua percepção aguda nos atravessa enquanto temos a certeza de que existimos. Aceitá-lo como passageiro equivale a aceitar a nossa existência neste mundo.
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