Era uma taturana verde claro, movendo-se lentamente sobre uma folha verde escuro.
A folhagem forrava um muro bem mais alto do que ela mas, a taturana, estava na altura dos olhos.
Sabia que não podia encostar o dedo, a avó dizia que taturana queima, tinha tanta vontade de pegar!
Passou horas olhando o movimento do corpo comprido, devia cansar aquele mover-se com tantas perninhas, ela só tinha duas e não andava deitada, andava de pé. Gente andava de pé e gente, quando não andava de carro ou bonde, ou onibus ou sei lá, andava a pé.
A-pé.
Ah, gente também entrava pela porta de um avião e voava junto com ele.
A taturana ia devagar passando pelas folhas. Alguém chamou, fingiu não escutar, queria ver aonde iria aquela coisa estranha e linda e aflitiva em que não se podia mexer. O fim daquele caminhar de mil perninhas nunca chegava…
Pegou um galhinho, cutucou de leve. A taturana parou. Cutucou de novo, o bichinho encolheu juntando todo o corpo. Ficou metade do tamanho! Que interessante…
Esperou um pouco, cutucou de novo, colocou o galhinho na frente, abaixo, ao lado…ai, ela grudou no galhinho e veio com ele ai, ai que medo, vai chegar até a minha mão, largou tudo, quase caiu no pé descalço, pulou para trás, e agora, taturana no chão, alguém pode pisar ou ela, de vingança, vai entrar em casa, vai até o meu quarto, vai subir na minha cama, vai me queimar!!!
Correu, pegou uma vassoura, empurrou, bateu, bateu, bateu, empurrou para dentro do canteiro de terra, nem viu se morreu ou não, largou a vassoura, correu, correu, chorando, chorou, chorou, soluçou, perguntaram o que foi, nunca disse.
Tita,
Gostei da taturana e seu escrito.
Um tempo atrás tbm escrevi um texto sobre ela.
tbm imóvel, esta porém nao me encarou.
esperei ela se locomover para algum lugar
que nao queria saber onde seria. Mas nao foi assim que aconteceu.
O texto está no meu site. O titulo é PRESENÇA.
ESTÁ BEM NO FIM DA SELEÇÃO.
engano: o texto Presença, ( ou taturana) voce vai encontrar no ano de 2017
Pelo ano será mais fácil localizá-lo.
beijos
As crianças são serzinhos tão delicados, sensíveis, curiosos e podem ser tão cruéis…por medo ela bateu, bateu, bateu e matou!
Saiu correndo e chorou e chorou e soluçou e não contou para ninguém o que foi.
Estava se sentindo culpada.
Que bom!
Criancinha que já tinha constituído dentro de si a culpa, porque se não tivesse constituído, no futuro talvez seria uma suzane richtofen.
Amei sua meninhha
Mais um texto contundente tramado pela pena de Tita Ancona. Quando sai o livro?