Clube dos Escritores 50+ Leo Forte Suspiro

Suspiro, crônica musical de Leo Forte

Vá até o final e aperte play para ouvir a “trilha sonora” da história

Não sei se pelos últimos acontecimentos, ou pela minha idade avançada, recordei uma conversa com minha neta.

 Ela tinha oito anos e estava na fase de achar “vovô sabe tudo”. Curiosa como sempre foi, fez uma pergunta peculiar para uma criança:

– Vô, o que é suspiro?

– Ora, querida, é aquele doce, doce, doce, que sua vó faz e sua mãe só deixa você comer um pouquinho.

– Não, vô, não o doce, aquele outro negócio que a gente sente, sei lá…

– Ah, sei, o suspiro que você quer saber é quando nós respiramos fundo, devagar, em seguida soltamos lentamente, como um alívio, é isso?

– Sim é, mas quero saber por que a gente tem isso?

– Acontece quando estamos chateados, tristes, alegres ou querendo muito alguma coisa e de repente conseguimos. Suspiros acontecem em diversos casos e por vários motivos.

– Pode acontecer por exemplo quando mamãe briga comigo?

– Sim, pode.

 Entendi.

A partir disso lembrei de uma história muito emocional que envolve o suspiro.

Edward Elgar, compositor inglês, em 1888, compôs  “Salut d’Amour”, uma pequena e linda peça para violino e piano, que dedicou à sua noiva e futura mulher Caroline.

Vinte e cinco anos depois, Elgar estava compondo uma peça como contrapartida a “Salut d’Amour” que chamava de “Sospiri d’ Amour”. Era 1914 e a Primeira Guerra Mundial estava prestes a começar. Angustiado com a desgraça iminente ajustou a peça transformando-a em um adágio mais sombrio, um sincero lamento que chamou “Sospiri”.

Elgar estava certo em sua previsão e angústia. A guerra ocorreu, ceifou cerca de 40 milhões de vidas e foi considerada um dos conflitos mais mortíferos da História. 

Hoje, mais de um século depois, com tanto desenvolvimento ainda vivemos assombrados pela insensatez humana.

Através da tecnologia assistimos horrorizados em tempo real, ao vivo e em cores, as violências absurdas de conflitos, com destruições, massacres e mortes em várias partes do mundo. Altos dirigentes, arrogantes e prepotentes, responsáveis por países desenvolvidos com milhões e milhões de pessoas, trocando ameaças como crianças em jogos infantis, tudo pela ambição e poder.

O mundo depois de tanto visto e acontecido nesse tempo todo, continua inconsequente.

Como a Elgar, a nós só resta:

Suspirar…Suspirar…Suspirar

05/10/24

Para quem se interessar seguem os links das peças citadas nessa pequena história recheada de verdades.

“Salut d’Amour”, E. Elgar – Anastasiya Petryshak

“Sospiri” (Sighs) by Edward Elga

8 comentários

  1. Leo, que delícia a sua crônica musical. Que bom seria se as crianças pudessem governar o mundo e os imbecis que criam as guerras não existissem. Aí, artistas como Elgar dedicariam seus temas dolentes apenas às rusgas com as mães…

  2. Lindo texto, Leo. Comovente, delicado e melancólico. Tivéssemos a sabedoria de manter o olhar infantil para as coisas, talvez poderíamos ter um mundo mais sábio. Grato por ser também um escritor tão sensível e nos trazer esses momentos.

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