Sugar Baby,
por Bettina Lenci


 

 

Como poderia induzir o título,  Sugar Baby não é um bebê de açúcar sob forma de pirulito ou decorando um bolo de batizado. É um novo APP a aterrissar aqui em nossa terra dentro em pouco. É um aplicativo especificado no mundo dos segmentos de namoros explicado em termos sociológicos pelo seu criador Woody Study :

A distância entre ricos e pobres é muito grande. Como usar recursos limitados para conseguir ter uma mobilidade de classe?”. Em outras palavras, a tese de Woody Study para justificar o mercado promissor de seu aplicativo no Brasil é, na verdade,  uma mistura fina de bordel com bolsa família.  

O título da matéria explica sem meias palavras do que se trata:

“APPS de paquera unem ricos a quem aceite “patrocínio” (entre aspas)”

Perguntei-me se deveria entender a mensagem como sendo um tipo de prostituição disfarçada ou uma crítica aos ricos que se usam de mulheres a fim de dar sem receber dinheiro pimpante em troca?  Seria uma chamada para “quebrar o galho” de jovens moças que buscam um patrocínio tipo bolsa escolar, aluguel em dia, voucher para comprar roupas ou mais uma criação do marketing danado em  pré intuir os vazios da alma para preenchê-la com fantasias .

Não! O livre arbítrio, diz a reportagem , define a relação entre a excêntrica demanda de mais um aplicativo, o Sudy, que serve para juntar homens ricos (os sugar daddies)  a parceiras (os) sexuais estáveis e ou afetivos que aceitam presentes ( sugar babies).

Um fato chamou minha atenção: este aplicativo  choca-se frontalmente com a atual e exacerbada discussão sobre assédio sexual. O Sudy chega em oposição à última fronteira de conquista que faltava ao movimento feminista – sem mais múltiplas frentes  pelas quais lutar.

Dirão que o Sudy é uma coisa e o acordar do feminismo renovado é outra coisa. Permito-me afirmar que não é!

Assédio sexual, entre tanta polêmica para defini-lo, também pode ser compreendido como a busca de  parceiros para compartilhar o que for, este aplicativo eletrônico é uma forma disfarçada do mesmo. Não toca a pele , mas  suscita reações físicas iguais. O assédio eletrônico tem , no não dito, uma reação mais poderosa do que a passada de mão no joelho embaixo da mesa. Enquanto as mulheres exigem o reconhecimento do seu corpo como sendo a sua identidade única e maior de Mulher, o  Sudy chega enfraquecendo, parcialmente, a reivindicação feminista.

Os bens materiais, sucesso,  ambição ainda falam mais alto!  

Não há pecado ao se deixar seduzir por palavras ou por presentes, pois  qualquer relacionamento que se inicia, que leve ao matrimônio, ou para a cama ou apenas uma relação por algum tempo afetiva, começa com assédio, que seja um olhar de desejo, um gracejo indutivo, um galanteio sob forma de uma rosa vermelha. Vale para todos os gêneros e opções que sentem o desejo da conquista mesmo se via a telinha acesa.

O criador do Sudy é claro na sua definição :  

“a diferença entre vender sexo e trocar sexo ou afeto por favores e presentes, é que no segundo caso, há um relacionamento fixo e consensual” .

(Traduzindo, o  status para a mulher que aceita presentes e favores com hora marcada é de amante e a que se vende é prostituta. Sem meias interpretações , semânticas e moralismos, fico com as prostitutas , estas sim, as únicas mulheres  com autoridade para falar sobre assédio sexual de verdade).

A reportagem menciona ainda o depoimento de uma usuária do APP como exemplo:

S. encontrou dois homens. Um deles uma má experiência; o outro, um homem  mais velho que, além de pagar a sua faculdade, passou a pagar o aluguel onde morava.   Conta ela a relação: “ele não é bonito, mas é limpo e temos os mesmos gostos..” Outra declara: “ Não espero encontrar o amor de minha vida,  mas pelo menos o cara gosta de mim , me dá coisas e não é um embuste”!

Ouso, não sem algum renovado mal-estar tecer uma teoria: mais se fala,  mais se fala da mesma coisa. Só muda a plataforma dos tempos. Hoje a tecnologia substitui com mais rapidez e abrangência os conflitos românticos entre amor,   sexo e afeto. Estas três principais vontades dos Humanos continuam sem fundamento adequado para resolver a nossa vontade de sermos amados.

Não será o ataque ao assédio sexual de salão ou aplicativos tipo Sudy que irá responder à questão do instinto sexual do Homem e ou da Mulher, do Jovem, do Velho, do Trans , do Gay ou toda gama de cores do arco- íris.  Buscamos eternamente o amor e por tal queremos ser recompensados na mesma moeda : seja a felicidade, a troca de um bem de conforto, apenas um presente ou dinheiro ganho com o corpo. Tanto faz. Qualquer que seja a motivação para se chegar a ele, por quais vias e razão, em geral,  passa primeiro por uma sessão de sexo. Sexo é simplesmente sexo!

 

Esse texto foi publicado originalmente no site Legado Vivo.

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BETTINA LENCI – Uma empresária que se realizou tendo como início profissional a história da arte e a fotografia, mas que, posteriormente, descobriu que lendo e escrevendo é possível criar um mundo com um olhar agudo sobre o cotidiano de todos nós.

Um comentário

  1. Querida Bettina, vou ter que discordar de sua definição de assédio, quando afirma que:
    – “Assédio sexual, entre tanta polêmica para defini-lo, também pode ser compreendido como a busca de parceiros para compartilhar o que for “.

    Assédio não é a busca de companheiros para compartilhar o que for.
    Assédio é invasão, é desrespeito, é não respeitar a decisão de uma das partes.

    Não posso concordar, também, com sua afirmação abaixo:
    – ” Enquanto as mulheres exigem o reconhecimento do seu corpo como sendo a sua identidade única e maior de Mulher, o Sudy chega enfraquecendo, parcialmente, a reivindicação feminista”.

    A maior reivindicação feminista é A MULHER PODER FAZER O QUE BEM ENTENDER COM SEU CORPO.
    Se ela quiser se prostituir, é assunto dela.
    Se quiser trocar sexo por presentes, assunto dela, portanto, assunto dela também querer ser Sugar Baby.

    – Ela não está sendo assediada pelo SUDY: se quiser, baixa o aplicativo, se não quiser, não baixa.
    Ela tem autonomia para decidir sobre sua própria sexualidade.
    O aplicativo não chega enfraquecendo a reivindicação feminista, o SUDY é mais um produto no mercado, só compra quem quer.

    Concordo com você, no entanto, quando diz que os conflitos de sexo, amor e afeto não são resolvidos pelos aplicativos.

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