tome, doutor, esta tesoura
e corte minha tristíssima pessoa
vá me dissecando, me fragmentando
em pedaços cada vez menores
use bisturis de lâminas cada vez mais finas
capazes de dividir-me
indefinidamente
molecularmente
atomisticamente
até atingir a substância primeva
anterior ao carbono e ao azoto
vendo-me assim ínfimo, elementar
talvez eu me convença
da ilusão dos sólidos
da transcendência
da ubiquidade
e ao final entenda
que depois da vida que se esboroa
ainda nos restará
o hausto essencial
o traço divino
o amor.
Cada dia vc surpreende com sua poesias. Parabéns
Muito obrigado pelo carinho.
Tens razão Luciano: impossível dissecar o Amor
Assim penso, Carlos. Algo como um alento, um reconforto.
Desesperado, intenso, surpreendente, belíssimo, Luciano
Você é sempre generosa, Sylvia.
Magnânima poética, ela mesma atravessa medula como infalível adaga!
Muito obrigado, poeta Rute.