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Selfie,
por Pastorelli

Quanto mais gritava, mais o bicho a envolvia. Pedia socorro, se debatia, de nada adiantava. Todos estavam preocupados em tirar selfie. Com os celulares em punho, se colocavam na melhor posição, teve um que chegou perto demais quase foi pego pelo animal. Aliás, ninguém sabia dizer que monstro era aquele, cobra, jacaré, aranha gigante, formiga descomunal, não tinha uma definição certa. Foi recomendado não foi!? Quem mandou ficar perto demais do rio. O pai desesperado, corria de um lado para outro apelando por ajuda, e ninguém lhe dava ouvidos, chegou a ter ousadia de arrancar o celular da mão de um rapaz, não teve sucesso. Foi empurrado, caindo sentado no chão. Sem forças, só restou chorar, pedindo ajuda aos céus e santos de sua fé. Nisso, num estrondo ruidoso, o monstro com a garota, deu um enorme salto e sumiram nas águas barrentas do rio. O pai levantou-se e gritou com todas as forças dos pulmões:

– Rogo uma tremenda praga a todos vocês: tenham seus celulares o mesmo destino que teve minha filha.

Assim que acabou de falar, os celulares, numa coreografia ensaiada voaram direto para o ponto onde a garota e o monstro tinham desaparecido. Um deles, com grande esforço, arrastava o dono junto que não queria largar o seu precioso objeto. Quando o último celular sumiu nas águas barrentas, fez-se um silêncio estarrecedor, logo quebrado por uma voz raivosa:

– Ele é o culpado. Foi ele que rogou a praga e agora estamos sem celulares. Joguemos ele no rio junto com a filha.

E foi o que fizeram, jogaram o coitado nas águas barrentas do rio. Não sabendo nadar e, se conformando com o seu destino, deixou-se engolir pelo rio.

– Vamos embora pessoal, não temos mais nada que fazer aqui. Amanhã compramos novos celulares e melhores.

E, assim fizeram. Instantes depois, reinava o silêncio da natureza.

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