Rendas são como memórias enredadas que já não uso mais. Não as esqueci, tampouco quero lembrá-las. Entristecem! Belas, boas, feias ou más. Todas cansam! Misturam-se, sem cronologia, como um suco no liquidificador do Tempo. Muito açúcar, as tornam piegas; pouco, as amargam. O tempo é veloz, mas não é voraz: infelizmente não consome as lembranças.! As filigranas de uma renda, de fios rústicos ou de seda, teimam em aterrissar com intervalos, parecem uma rede sufocante de memórias que há tempos já devia ter sido dissipada.
O passado nos alcança e não há memória que não venha sem alguma dor ou saudade. Ao escorregarem para o espaço da lembrança, doem porque éramos imaturos para receber o amor com o qual fomos amados. Por outro lado, memórias trazem a saudade pintada na lona – uma bela paisagem que serve como pano de fundo para contar uma história lírica.
Não gosto de memórias. Preferiria que ficassem guardadas em uma caixa, a do esquecimento. Elas consomem tempo, obliteram o que ocorre na vida do momento.
Gosto de histórias da vida acontecendo. E muita coisa anda acontecendo. Há um punhado de gente que pensa muito e cria teorias verossímeis para quem está fincado no presente e quer saber mais sobre ele.
Os matemáticos e filósofos, biólogos e engenheiros do futuro projetam uma menor importância para o gênero humano, hoje, individualizado no altar sagrado de suas vontades e memórias. Imagino que nos aconselhariam a não tomar o caminho das lembranças. Não deveríamos nos distrair com as cinzas que uma vez já foram fogueira. Deveríamos unir nossa criatividade e aprendizado para nos tornar uma força tarefa, um time, em conjunto com os algoritmos, hoje já senhores do mundo. Deles não devemos ter medo! Os algoritmos trazem soluções necessárias para a Humanidade , trazem mais rapidamente do que a mente do Homem consegue formular, porém, ele não só não pertence ao gênero humano como também não pertence ao reino animal. Ele não vive! Jamais será um oráculo! Nós viveremos para sempre e cada vez mais justamente com a contribuição do próprio algoritmo.
Busco clarear minha mente e sentidos, deixando de reviver o que não volta, abrindo, assim, espaço para o porvir, à porta. Ela se fechará sobre si mesma e o ontem não mais indicará coisa alguma. Acabou!
entre rendas e algoritmos, você descreve bem a tentação de memórias saudosistas e soluções futurísticas, lindo: abrir espaço para o porvir, viver o que temos porque …