Vim de um mundo onde as imagens de quadros, filmes, fotos, – o que se via à época – eram fortes, intensas, perfeitas e ou imperfeitas, mas se comunicavam comigo por possuírem, entre seus atributos, o bom gosto e a estética.
O bom gosto trazia para a obra uma visão do homem e seu entorno, condizente com o limite de liberdade outorgado ao artista. Para cada época um código de limite.
Na Grécia, os órgãos masculinos e femininos eram idealisticamente definidos, sem pudor algum. Nos séculos seguintes, os personagens foram paulatinamente sendo vestidos e, creio que a transcrição das épocas em que as obras foram produzidas detinha a informação fiel do momento. Sinto que este século – consequência do fim do século XX – extrapola os limites da realidade.
Venho do século passado imbuída desta percepção retrógada sobre o que pode ser definido como arte e seus limites e esbarrei hoje num vídeo que se intitula “SAVAGE X FENTY SHOW” no qual Rihanna é a protagonista. Não me chocou porque aprendi – neste século – justamente, a olhar as expressões estéticas em seu devido tempo histórico.
Confesso que no começo fiquei confusa por não entender qual o enredo, o propósito, a mensagem embutida em uma demonstração, ao meu entender, de mau gosto, sem nenhum senso estético. À medida que meu olhar foi se adaptando aos movimentos selvagens, desconexos, sem razão de ser, de dezenas de dançarinos avatares que emergiam do fundo da terra em uma lagoa de lama fluida, achei melhor me conformar com o fato, já que desejo conviver com o que não entendo mais.
Daí acertei minhas lentes para focar na cantora. Seus movimentos, ao desejar captar a atenção com uma sensualidade caricatural, fugia não só à estética no seu vestuário como ao que entendo ser de bom gosto. O grupo dança ao redor de algo como um totem ou fogueira, ou viagem alucinógena. Não terminei de assistir, mas fiquei triste e pensei como a geração deste século vai conviver com uma expressão da realidade brutal e sem contorno. Triste porque o vídeo se propõe a trazer uma informação atual que pode ser interpretada como uma selvageria sem sentido.
Por que vazia? Porque o mundo “avataresco” que vivo hoje não me acrescenta beleza. Os efeitos de luzes, exagerados, escondem a tragédia de fim de mundo que este exemplo de vídeo pretende mostrar.
Vivemos em um mundo de efeitos especiais sem as consequências reais. De sucessos, de likes, mas sem resultados reais.
Acho isso muito triste! Um desperdício da beleza que a vida pode nos proporcionar, se nos atermos a compreendê-la no que ela tem de sublime e generoso.
Quer assistir também?
Assim caminha a humanidade, Bettina.
Também me sinto deslocado. Mas confesso que fiquei em dúvida quanto ao seu texto: seria um puxão de orelha ou pura perplexidade?
Abraço!
Li, em algum lugar, que essa é a primeira geração menos inteligente que a anterior. Segundo o que lia, isso aconteceu pela primeira vez na história da humanidade. A observação neste texto reflete a sapiência desta geração.
Bettina
Sua crônica é de muita coragem em dias em que ninguém discorda dos aberrantes gostos. Assisti ao vídeo tribalesco e me lembrei de uma entrevista de hoje na Cultura cujo tema foi ” A linguagem dos pássaros ” o poeta interpretando o som auspicioso
e trazendo a tradução poética.
Como nos revigora o saber que ainda existem homens e mulheres com sensibilidade ao belo,trazendo o augúrio
tirado do voo e do canto das aves.
Gratidão