Sou uma artista, desde pequena sei disso. Minha pele é uma tela em branco, própria para ser pintada.
Todo o mundo acha isso muito esquisito, – como assim?!
– É assim, uma superfície branca.
Para que serve tanta pele, se não for para desenhar? Elástica, melhor do que papel, melhor do que tecido.
Cheio de mistérios, o vermelho muda de tom, as cores se transformam. Minha pele não aceita cor pura. Para atingir o vermelho forte, tenho que misturar vários tons até chegar lá. É a cor do sangue que procuro, sangue da vida, sangue da morte.
Comecei com caneta esferográfica azul, vermelha e verde, só existiam essas cores, agora tem mais, mas desbotava no banho, o que era bom, pois eu inventava sempre um novo desenho, uma palavra diferente, palavras que tinham cor. Pirilamba é verde, amontãtã é vermelho vinho, depois cansei das palavras e fiquei apenas nos desenhos.
Resolvi que queria uma pintura permanente para ficar sempre comigo.
A primeira tatuagem fiz escondida debaixo da roupa, na virilha, doeu muito, depois esqueci da dor porque a cobra que começou a morar lá é maravilhosa, cresceu, encorpou, engordou, uma beleza.
Em seguida, uma aranha azul nas axilas, cheia de pernas; atrás de uma orelha, um besouro, atrás da outra, um filhote de beija flor turquesa, só falta cantar.
Entre os dedos dos pés, pequenas formigas verdes, combinam com o esmalte vermelho que uso hoje em dia.
Sylvia Loeb é psicanalista e escritora. Visite seu site em sylvialoeb.wordpress.com , acesse sua página no Facebook: SylviaLoeb_escritora ou escreva para o email [email protected]
Sylvia, adorei seu texto. Sempre que vejo alguém com alguma tatuagem (hoje em dia não é coisa rara), olhando de soslaio fico me perguntando, qual o registro? Por que?
Deve ter um motivo forte para este registro. Qual será?
Curiosidade.