Em versos dúbios inesperados
Meus atos deveras indecentes
-Entre travessões censurados-
Vão aqui expostos inclementes
Nenhuma vírgula se intrometa,
No curso descrito de minha vida
Nem indague qual a pior treta
Que sendo minha foi omitida
Naqueles tempos tomentosos
Em ponto e vírgula interrompidos;
Os momentos mais escabrosos;
Foram acentuados e mal vividos
Impunemente tão degustados
Como incontidas indecências
São atos tresloucados passados
Antecipados às reticências…
Infestada de perversões repetidas
Pior (entre parênteses guardadas)
Sejam essas memórias reprimidas
Tão cruel tê-las ressuscitadas
Num cofre repleto de insolências
Guardo a chaves entre “colchetes”
Todas impudicas incontinências
Ferroando-me como alfinetes
Haja exclamações pelos ardis
Que foram por mim escondidos!
Escamoteando pecados tão vis
Dentre os inúmeros cometidos!
Tristes e piores momentos
Para todo sempre perdidos
Como olvidados mementos
Entre aspas “recolhidos”
Segue ponto de interrogação
Depois de dois pontos apenas:
Ao céu ou ao inferno partirão
Arrependidos ou com penas?
Restam todas desditas
Em pontuações por igual
Ao pó então convertidas
Antes do ponto final.
Que inspiradíssima ideia poética, Éder. Achei essa parte especialmente genial: “Num cofre repleto de insolências
Guardo a chaves entre “colchetes”
Todas impudicas incontinências
Ferroando-me como alfinetes”
Caro Luciano: disse Pablo Neruda em sua autobiografia que a fama de sua poesia era devida apenas a seus tradutores, o que me leva a acrescentar que seu comentário amigo e condescendente sobre essa poesiazinha despretensiosa contribui para salvá-la do completo esquecimento.
Caro Eder
Gostei muito de seu poema abrigando e criando lindas imagens com e sobre a pontuação. Por uma estranha coincidência também andei refletindo sobre “questões pontuais” e fiz uma pequena crônica a respeito.
Há sintonias no ar…