Faz-se poesia
Com ou sem
Ritmo e rima
Ou cadência
E sem poupar
Quantas linhas
E quão longas
Mas se anima
E é de amor
Bom humor
Ou revela dor
E todo sofrer
Inquietação
Resignação
E padecer
Faz-se
Faz-se poesia
Até pelo avesso
E sem começo
Chega seu fim
Candidamente
E sem censura
Pois a havendo
Nunca é pura
E tão inebriante
Como fez Dante
Ou em canção
Com inspiração
De tão pungente
É Mendelssohn
Cheia de alegria
Ou até tristeza
E tanto envolve
Como poesia
Que comove
Em sintonia
A beleza
Que fez
Faz-se poesia
Solerte e forte
Plena de tédio
Até nostalgia
Sem remédio
Comportada
Ultrapassada
E politizada
Ou indigente
Impertinente
Maledicente
Atemporal
E indócil
Mas se fértil
E inteligente
Será lembrada
E sempre lida
Após feita
Faz-se poesia
De linhas retas
Tortas e incertas
Desamparadas
Ainda fugidias
Vivas ou mortas
E as modestas
Quase inócuas
Bem distantes
Ou indignadas
Exasperantes
E indigentes
Não louvadas
Só imaginadas
Até rejeitadas
Que se façam
Faz-se poesia
Cheia e vazia
Contundente
Valor evidente
E mesmo inerte
Ou muito leve
Vivendo breve
Nessas folhas
Que a imprime
E se perdidas
Se desbaratam
Pois incontidas
Então revoam
Não declamam
Nem inflamam
Bem se pode
Se não lidas
Refazê-las
Faz-se
Poesia
Abstrata
Concreta
Obscena
Ilusionista
Hilariante
Fervorosa
Com diálogos
Ou monólogos
Complicadas
Ou singelas
Como gemas
Que brilham
De emoção
E fascinam
Com a luz
Que darão
Bem-feitas
Faz-se
Poesia
Tanto antes
Como hoje
Dissonantes
De justa causa
Ou nenhuma
Com vogais
E consoantes
Em desordem
Ou em ordem
Decrescente
A crescente
E harmonias
De angelicais
Às infernais
Porém delas
Façam mais
Faz-se poesia
Para lembrar
Ou esquecer
Hoje e sempre
Para renascer
Com crédito
Do pretérito
Mas que omite
Mediocridade
E a virtuosa
Ou excêntrica
E se inquieta
Enterneça
E floresça
Que dela
Mais se
Faça
Faz-se poesia
Com adjetivos
Significativos
E substantivos
Entremeados
De linhas vivas
Mais as mortas
Que esperam
Ressureição
Mas insepultas
Cabe a corvos
Profanadores
De seus versos
Trazê-la à luz
Mas perdê-la
É sofrimento
O momento
Então fugaz
Em que se lê
A feita
Faz-se poesia
A seu tempo
A ser louvada
Negligenciada
Ou criticada
Deturpada
Refutada
Destituída
Execrada
Ou imitada
Mas amada
E musicada
Com sentido
Ou sem ele
E lembrada
Lendo delas
Mais farão
Faz-se poesia
Para esquecer
E até comover
Às lágrimas
Pouco importa
Se completas
Incompletas
Ou arruinadas
Pelo tempo
Fogo ou água
Sem mais nada
Além da capa
Que a abraça
O que um dia
Fora poesia
Que se leria
Ou faria
Faz-se poesia
No amanhecer
De noite insone
Sóbrio ou ébrio
Ainda sem saber
O que escrever
E até exaurido
Todo sensato
Ou insensato
Consegue ver
Nessas letras
Sons a tecer
Pois sempre
De sonhos
O poeta
Nasce
Feito
Com sua criatividade, Eder nos envolve na trajetória fascinante da poesia, com clareza e emoção. Parabéns!
Maravilhosa!