Poema ao nada,
por Eder Quintão

Sem palavras a poesia
Plena de sílabas vazias
E concreta imperfeição
De abstrata imaginação
Insiste mesmo em vão 
Em passado inexistente
Na busca de invocação 
Que assim tão ausente
Até carente de emoção
Numa reticente omissão 
Nada invoca o presente

Sem rimas inusitadas
Contexto ou conteúdo
Nem estrofes ousadas
Brotou esse som mudo 
De desfalcado sentido
E assim tão destituído 
De emoção adequada
Com frase equivocada
Melhor foi até abortar
Dispensando invocar 
O vazio além do nada

Sem um bardo evocar 
E outro qualquer poeta 
Quer vivo ou passado
De mérito comprovado
Ter sucesso em imitar
Fica impossível almejar
Algum inusitado sentido
Versar em amor ou ódio 
Angústia, tristeza e ócio
A viver tédio desmedido 
Melhor é nada redigido

Embora tendo querido
Gerar poema inteligente
Mas sempre negligente
Não levou o texto além
E nunca lido por alguém
Foi de pronto esquecido
Logo da crítica excluído
Morreu sem ter provido
Letras mesmo remotas
Quer vivas ou mortas
Nada tendo auferido

Reza condescendente
Numa lápide indiferente
Certo texto condizente:
“Em túmulo, mantidos
Aqui jazem esquecidos
Versos desconstruídos
Para nunca serem lidos
Melhor sendo perdidos
Logo que então paridos
Pois daquilo que nasceu
Nada mais sobreviveu”

2 comentários

  1. Eder,
    nas situações mais esquisitas, nascem poemas. É uma flor resiliente. Precisa de mãos como as suas para mantê-las. É quando as enterramos que elas nascem.

  2. Boa tarde Paulo:

    V. tem razão: é nas situações mais esquisitas…. No meu caso a poesia geralmente surge quando estou guiando… Paro o carro, escrevo duas ou três linhas, caso contrário são imediatamente esquecidas, e em casa elaboro as frases. Porém, é verdadeiramente um parto: durante 9 meses vou mudando aqui e ali até aceitar que o filho é meu. Verdade que antes dele houve vários abortos…

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