Havia sempre um aroma convidativo no ar. Essa alegria de fazer para os outros me contagiava. Ficar na cozinha era um verdadeiro prazer. E poder ajudar era quase celestial. A colher de pau estendida com a mão de uma delas por baixo, a segurar, para não vazar, o caldo que escorria para dentro da boca, à espera, em coro suspenso, do seu veredito – “mais sal” ou “menos sal” – me colocava no Olimpo da culinária judaica.
Continuar lendoA MORTE EM VERMELHO E PRETO,
por Blanche de Bonneval
A situação politico-militar em Duchambé, capital do Tadjiquistão, estava muito ruim neste momento e tivemos de ficar vários dias em casa por causa dos embates
Continuar lendoDOIS PATINHOS NA LAGOA
ou o dia em que a galinha d’água fez quá quá quá,
por Luciano de Castro,
Sentado num dos bancos verdes do Clube Naval (aqueles que ficam bem próximos à Lagoa), eu lia um Drummond de 1957 quando uma vozinha infantil roubou minha atenção: “patinho, patinho, vem aqui, patinho”. Olhei pra esquerda e vi, agarrado à grade de proteção, o rapazinho de uns 5 anos que insistentemente chamava pelo morador lacustre.
Continuar lendoDúvidas poéticas,
de Eder Quintão
Poesia é o que só os poetas sentem/ Ou o que eles sentem é só ela?/Poesia é o que o poeta lembra/Ou o que do poeta se lembra?/Poesia é voz de poeta/Ou poeta é voz dela?/Poesia é chorar a perda/Ou perder-se a chorar?/Poesia é mar de lágrimas sentidas/Ou lágrimas sentidas ao mar?
Continuar lendo“FIZ PORQUE AMEI”, por Bettina Lenci
O homem baleia é um homem culto . Professor de literatura online, generoso com seu saber e que deseja transmiti-lo aos alunos. Continuadamente, enquanto ensina, insiste ser necessário ter coragem para encontrar o seu lugar ao escrever e, para reforçar tal convicção, afirma mais de uma vez que seus alunos precisam “ser verdadeiros consigo mesmos”
Continuar lendo#memórias
Adeus, amor
de Sergio Niskier, nosso escritor convidado do mês
Você fechou os olhos há pouco mais de duas horas, e, segundo meus amigos rabinos, sua alma está por aqui, começando a caminhada para o Gan Éden. Todos já se foram, e rapidamente. Agora, totalmente só, encontro apenas você para me fazer companhia.
Continuar lendo#boasleituras
Olhos d’água,
de Conceição Evaristo, por Lidia Izecson
Demorei a ler Conceição Evaristo. Já tinha xeretado alguns escritos dela e gostado muito, mas agora esse livro, Olhos d’água, que é de 2016, caiu nas minhas mãos e me derrubou. São contos que falam de mulheres negras, pobres, mães, avós, amantes, e também de meninas e meninos que compartilham da mesma vida de ferro nessa nossa sociedade tão criminosamente excludente.
Continuar lendoOs sapatos sob medida de Leonardo Quindere
Era dia de entrega. Apesar da idade avançada, gostava de fazer pessoalmente. Gostava sobretudo de entregar sapatos para noivos. O casal de hoje conhecia desde criança e, se não estava enganado, havia comparecido ao batizado de um deles. (…) Aquela altura da vida, e tendo visto tantas idas e vindas, se sentia à vontade e obrigado a dar um conselho ou dois.
Continuar lendo#boasleituras
Carpas na banheira (de Loeb)
por Sergio Zlotnic
Com incrível facilidade a autora se cola na pele de outras pessoas (gente que ela vai buscar sabe deus onde). E absorve, canibal, as suas gramáticas estrangeiras. Às vezes, nos melhores casos, a autora desaparece (sem deixar vestígios!). Fica somente o personagem, ali, sozinho, errante, no meio da página.
Continuar lendoREALIDADE AVATARESCA,
por Bettina Lenci
crônica, puxão de orelha, pura perplexidade?
Venho do século passado imbuída desta percepção retrógada sobre o que pode ser definido como arte e seus limites e esbarrei hoje num vídeo que se intitula “SAVAGE X FENTY SHOW” no qual Rihanna é a protagonista.
Continuar lendoPablo Neruda e o corrupião goiano
crônica de Luciano de Castro
A conexão de Neruda com Goiás seria sacramentada por algo ainda mais forte, um presente vivo e emplumado que recebera de uma escritora goiana: um vistoso corrupião. De toda a avifauna brasileira, o corrupião ou sofrê é uma das espécies mais interessantes, tanto pela belíssima plumagem como pelo canto melodioso, mas também pelo comportamento.
Continuar lendoO Último Leitor, de Ricardo Piglia, e a Livraria Cultura, juntos na crônica de Carlos de Castro
Salvemos esse templo onde infinitas relações entre livros e leitores foram geradas, que tem servido de palco para inúmeros encontros com escritores, ponto de resistência das relações presenciais entre amantes da vida literária e do universo paralelo da cultura.
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