Os gêmeos, de Leonardo Quindere

Eram gêmeos. Na chegada da escola já chamavam a minha atenção. Olhava, uma certa inveja, ficava pensando, o que seria ter um duplo de mim? 

Considerava uma ideia genial ter sempre alguém do mesmo tamanho pra brincar e, mais ainda, igual e com os mesmos gostos, a mesma disposição. Um duplo de mim. Pensava na minha irmã, que algumas vezes brincava comigo, mas era como concessão, algo pra agradar o irmão um pouco mais velho. Não era a mesma coisa. 

Os gêmeos não estudavam na mesma sala e eu achava isso estranho, por que não? Eram da mesma série, irmãos, amigos, iguais. 

Se um tivesse uma dúvida poderia perguntar para o outro, era como perguntar pra si mesmo, né? 

Pareciam mais fortes, eram em dobro, nunca precisariam ter amigos, tinham um ao outro. A vida parecia mais fácil para os gêmeos. 

Uma coisa eu achava fantástica, um se chamava Junho e o outro Julho. Eu ficava fascinado com a boa ideia dos pais de chamá-los  pelo nome de dois meses do ano! Se viessem mais irmãos será que seriam Agosto e Setembro? 

Minha mãe lia uma história onde um aventureiro perdido encontrava um índio e o chamava de Sexta-Feira. Adorava que tudo tivesse alguma lógica, mesmo que eu não entendesse completamente. 

O Junho era da minha sala de aula. Éramos amigos, mas bastava ver o irmão que corria pra ele, era como se tivesse muito pra contar e aquele reencontro fosse tudo. 

Nunca brincávamos os três, era como se eu só servisse na falta do irmão. Quando os gêmeos se juntavam, eu sobrava.

Anos depois descobri que se chamavam Júnior e Júlio.