O presente lindo,
por Marco Aurélio Fernandes

 

 

 

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Eu não gosto dessa nova faxineira! Também, com esse nome, Zenaide… Ela disse que posso chamá-la pelo apelido de Zezé, mas acho meio estranho…Ela é tão chata, e toda sexta-feira fica mais complicado  brincar aqui em casa; tenho de ficar quase que só no meu quarto, porque ela precisa fazer a faxina no apartamento inteiro… Ainda mais que nem posso pedir pra um amigo vir ficar comigo à tarde, nesses dias, por causa dessa maldita faxina. E ainda tenho de agüentar meu irmão Joaquim, que é mais novo que eu, e fica me atrapalhando nas coisas que quero fazer, ou quando quero brincar sem ele por perto; ainda bem que a babá fica com ele…

Mas hoje resolvi ‘dar um jeito’, para que minha mãe a mande embora. Fiquei pensando, pensando, no que poderia fazer, e aí bolei uma coisa que acho que vai dar certo. Aquele vaso de cerâmica, que minha mãe ganhou da Luciana, a amiga dela que fazia um curso, foi colocado num lugar num canto da sala, mas no dia da faxina a Zenaide o põe na mesa de centro, enquanto faz a limpeza das coisas por ali.

Eu insisti tanto com minha mãe, hoje, pra trazer algum amigo, que ela concordou com a vinda do André Busatto, com quem  gosto muito de brincar, justamente porque a gente acaba correndo pelo apartamento… E aí, quando percebi que a Zezé estava limpando a sala, convenci o André a brincar de pique – e saímos correndo, correndo, até que  passei perto da mesa de centro, o vaso estava lá, e como ele é meio redondo, tem uma base menor e tal, dei um jeito de fazer o André tropeçar na tal mesa… e ele cair no chão… É claro que quebrou, e a Zezé e a babá vieram logo pra ver, a Zezé ficou muito brava, recolheu tudo, mas disse que ia contar pra minha mãe: ainda bem que o André não se machucou!

Bom, fiz cara de chateado e preocupado, mas bolei uma forma de por a culpa nela. E fiquei esperando a hora em que minha mãe chegasse, pra contar como tinha sido. Eu sabia que ela também ia ficar muito brava, mas ela não costuma bater em mim, então eu sei que ela vai querer conversar, perguntar, saber como foi, e tudo mais.

A mãe do André veio buscá-lo, a Zezé foi embora antes de minha mãe chegar, mas a babá ficou encarregada de contar o que tinha acontecido: aí está a minha chance, pensei, o problema vai ser só como por a culpa na Zezé

Quando a mãe chegou, eu a abracei e beijei , e procurei ser mais carinhoso do que de costume. Logo a babá a chamou, mas fiquei por perto, pra ouvir o que ela ia contar – e quando ela mencionou que o André derrubou o vaso, falei: “ – Mas também, do jeito que a Zezé deixou em cima da mesa de centro, o André nem viu… a Zezé é que é a culpada!” Percebi pelo olhar de minha mãe que ela estava meio desconfiada… e ela falou: “Querido, v. sabe quanto a mamãe gostava desse vaso, ele não tem igual, foi a Luciana que me deu, um presente lindo… Vou ter de pensar no que vou fazer, mas v. sabe que não dá certo vir amiguinho aqui na sexta-feira, que é o dia da faxina geral…

Mamãe vai tomar um banho, e depois a gente conversa.”

Putz! pensei, meu plano não vai dar certo! De fato, minha mãe achou que a culpa era mais minha do que da Zezé, disse que eu ia ficar sem ver filmes depois do jantar, pra não esquecer que não posso convidar amiguinhos na sexta-feira, e logo percebi que ia ter de bolar outro plano…

 

 

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