Nesses próximos dias do Pessach, do PassOver (Passar Por), desejo a todos os povos, e aos brasileiros em especial, que tenhamos coragem para atravessar o temeroso Mar do Desconhecido. Coragem para ousar ser diferente, enxergar para além do óbvio ou das aparências.
Coragem para se inspirar naquele grupo de hebreus que, mesmo sem saber nadar, persistiu na travessia. Eles se separaram do grupo que os atrasava, deixando-os cativos, escravizados. Não ficaram paralisados, reféns, desejando ir, admirando ou criticando os que foram. Não ficaram no antigo, no sufocante, mas conhecido lugar comum, em terra firme.
Se arriscaram e conseguiram atravessar o Mar. Essa é a verdadeira liberdade.
Não basta apenas não ser mais escravo para adentrar em terra santa, é preciso ser livre no coração e na sua forma de agir.
Não basta, tampouco, pertencer a um grupo, a uma religião, a uma etnia, uma família…
O desejo de pertencimento pode, muitas vezes, nos atrasar –pertencer nem sempre nos faz seres melhores. Pode, às vezes, nos tornar um ser pouco pensante. Pertencer nem sempre nos tira do nosso próprio deserto só porque alguns, ou vários, pensam dessa mesma forma.
Para adentrar no território do pertencimento, há que, antes de tudo, se libertar do julgamento alheio. Ter critérios próprios e muito claros! E eles só aparecem quando aquilo que é mais genuíno e livre em você é acessado. E para que ele desperte, você tem de fazer a travessia. E ela é solitária, mesmo que seja em um grupo.
Ter coragem é poder sair desse lugar estreito – o Egito, Mitzraim em hebraico, cujo significado é um lugar estreito, que não pode mais nos conter – para uma Nova Terra. É ir em direção ao novo. É mais uma oportunidade que a vida dá para nascermos mais uma vez, para ressuscitar em uma nova consciência!
Ressuscitar, em aramaico, não significa apenas renascer ou voltar à vida e, sim, “recobrar os sentidos”.
Recobrar é ter uma nova chance de fazer diferente, mais consciente e integral.
É acordar do entorpecimento da ignorância. É apurar o olhar…
Olhar para o seu novo caminho e se perguntar “qual é o meu legado?” É apagar as pegadas antigas – e o mar facilita isso – para andar em solo firme, com novas impressões! Para ser livre você tem que acessar a sua coragem. Para ter coragem, você tem que se libertar daquilo que você não é, caso contrário você ficará escravizado.
É também perder o que uma vez fez sentido, mas, que agora, não faz mais.
E, acima de tudo, abrir-se para um novo tempo de mais compreensão para com aqueles que têm outro ritmo, outros pensamentos e, sobretudo, outras convicções. Esse é o meu mais profundo desejo a todos nesses tempos de tantos desafios. Que possamos ser mais gentis e amorosos com os nossos semelhantes.
Como bem disse Victor Hugo: “O cérebro fabrica Luz; o coração produz amor. A Luz fecunda. O Amor ressuscita.”
Feliz Pessach! Feliz Páscoa!
👏👏👏muito bom! Especialmente neste nosso momento.
Nesse tempo de tanta estranheza, reflexões tão oportunas! Parabéns, Lilian.
E o que faz esse Amor iluminado que você compartilha? Feliz Páscoa ❤
Maravilhosamente oportuno e instigador além de nos nutrir com sua sensibilidade e nos levar a refletir profundamente sobre nossa própria travessia. Obrigada, é um presente!
Que belíssimo texto ,Li querida!
Sintetiza e ressignifica os muito preciosos ensinamentos da tradição judaica trazendo para o hoje , nesses tempos tão desafiadores. Adorei. Feliz Pessach pra vc. Bjs Frances Rose
❤️❤️❤️