Nunca conseguiram viver juntos, nunca conseguiram se separar.
À paixão mais selvagem seguia-se o ódio mais extravagante, juras de amor se transformavam em palavras ferozes. Ficavam exaustos, pálidos.
Para continuar se amando, resolveram se separar.
No início, estranharam, onde as loucuras, as fúrias?
Os dias mais perigosos eram os de chuva, da garoa fina, da neblina, do frio que entrava pelas pernas que se enganchavam debaixo do acolchoado.
Os mais difíceis eram as noites de verão com seu bafo quente de dama da noite, quando o desejo acendia a pele.
Encontram-se, há vinte anos, uma única vez por ano.
O frio das pernas veio para ficar, a pele nunca mais se acendeu a não ser neste único dia onde o tempo vibra como se não tivesse passado nem um dia desde ontem.
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SYLVIA LOEB – É psicanalista e escritora. Visite seu site, acesse sua página no Facebook ou escreva para o email [email protected]!
Lindo texto, Sylvia.
A paixão aciona o alerta atávico: cair no precipício e deixar de ser animal ou manter a herança do desejo de ser anjo? A ferocidade com o qual essa emoção nos atrai é da mesma intensidade com a qual nos descobrimos inermes. Então o quê? Vestir no dia a dia a armadura e eventualmente despir-se da pele, expor a alma na carne, até o ano que vem.
Sinteticamente amplo. Singularidade cósmica do amor.
A força das palavras machuca e fascina, um feitiço. Obrigada, Paulo.
Conciso — e maravilhoso!!
Obrigada, Marco Aurelio.
Onde o tempo vibra … o tempo das paixões, por que deixamos de vibrar? Desgaste? Entrega?
A paixão é muito caprichosa. Se muito forte, queima até o osso, se muito fraca, morre de inanição, em fogo médio, morre de tédio. Apesar disso tudo nos acossa permanentemente com suas exigências descabidas.