Clube dos Escritores 50+ José Carlos Peliano O bolso

O bolso, de José Carlos Peliano

Entrou apressado na garagem, chegou à porta do carro, enfiou a mão esquerda no bolso da calça para retirar a chave, entre as chaves do escritório, a de casa e o abridor do portão automático, achou-a, pegou-a, ia retirá-la, algo a travou, percebeu que a mão não conseguia sair, achou que tinha engordado e a calça não dava mais conta de seu corpo da cintura para baixo.

Puxou uma, duas, três vezes, muitas, nada, ele percebeu que não era o bolso que a segurava por ter estreitado, nada a prendia, apenas a mão não saía, começou então a ficar assustado, achando que talvez fosse a coluna que tivesse travado, endireitou-a, ajudou agora com a mão direita puxando o antebraço esquerdo para retirar a chave e a mão do bolso, mas nada.

Ficou agoniado, não sabia mais o que fazer, chamou em gritos a filha para ajudá-lo. Ela chegou, viu o pai exasperado, reclamando, sem entender o que se passava com ele, que sente seu braço aos poucos sendo puxado para baixo, para dentro do bolso da calça. Desesperou-se, gritou alto por socorro, a filha também, ambos tresloucados, o antebraço dele indo para dentro do bolso, a filha atrás fazendo o esforço contrário, puxando o braço do pai para fora, tentando ajudá-lo a tirar o braço de dentro do bolso, gritos, gritos, gritos, em seguida, tendo o bolso já rasgado e aberto uma entrada enorme, entra nele também o ombro esquerdo junto à cabeça, mais gritos, o ombro, braço, antebraço direitos, gritos dele agora sufocados, tórax, barriga, cintura, coxas, gritos destemperados, descompassados, pernas, pés, todo o corpo.

A filha tresloucada, histérica, viu seu pai desaparecer totalmente para dentro do bolso esquerdo de sua calça, para onde Deus do céu, gritava ela sem controle? não sobrando nada, sequer um vestígio dele pelo chão da garagem, nem mesmo uma peça de roupa, a chave do carro, a aliança de casado, sua caneta de estimação ou a pasta de trabalho que carregava nas mãos.

Apenas a filha sobrara, ainda gritando porquê, para onde, o que foi feito de meu pai? Meu Deus, meu Deus, meu Deus, até que repentinamente ficou estática, olhos esbugalhados, em frangalhos, catatônica.

4 comentários

  1. Caro Peliano, Li “O Bolso” achei ótimo, você devia ter um CREA especialidade Engenharia do Fantástico, aproveite bem esse diploma continue fazendo essas obras é um dom que alguém te deu (seria a Universidade do Fantástico?) parabéns ao reitor e ao excelente aluno. Abraço de um candidato a escritor mas formado em ciências exatas. Adolfo

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