Resultado de dez anos de coletas de narrativas dos povos da Patagônia, a antropóloga Clasia Aranjuez Nevado publicou mito inédito do povo Pacuí em livro recente, coincidindo com obra do autor Pablo Naranjo Dias, lançados no mesmo período apesar de afirmarem serem trabalhos independentes. Os livros esgotaram-se porque ambos compraram o estoque do rival para tirar do mercado.
A versão que nos chega foi veiculada pela Revista de Antropologia Ibero Americana por um orientando da primeira autora. O mito conta que o príncipe Rioja, de Terra do Fogo, casou com a princesa do norte Alara, proveniente do Alaska, de uma tribo de exímios navegadores. Procriaram no Equador e ali nasceu o herói/heroína Tunra, que era seis meses homem e seis meses mulher. Apesar de dificuldade de parcerias e de conceber, a gravidez era possível mediante hibernação e aceleração na primavera. Tunra era um guerreiro destemido e uma prodigiosa mãe que teve grande prole, foi modelo de sabedoria para seu povo que o/a louvou com cantos, lendas e rituais elaborados e de belíssima encenação.
O ciclo do herói/heroína adquire nuances que abarcam recolhimento e expansão sazonal e, na psicanálise, foi proposta uma releitura do complexo de Édipo e um novo modelo de aculturação, socialização e aprendizado.