O dente é uma coisa branca, dura e saliente que nasce na boca dos humanos e dos animais. É usado pra cortar, prender e rasgar a comida pra gente poder engolir sem morrer asfixiada.
Tenho uma cadela que mostra os dentes por qualquer coisa. Ninguém chega perto. Gostaria de ser ela na hora em que aquele bruto veio pra cima e me deu um murro na boca. Eu ia massacrar a mão dele.
Fiquei sem os dentes da frente. Fui no SUS, acabaram de arrancar o resto.
Estou banguela, mas encontrei uma dentista que vai fazer implante na minha boca, a doutora Nayara. Um anjo. Ela é do grupo Apolônias do Bem, que conserta boca de gente pobre agredida.
Vou voltar a sorrir, mas o problema é que, quando eu morrer, não vão conseguir me identificar, pois não tenho mais dente de verdade. Periga de eu ser enterrada como mendiga.
Dente é documento de identidade, não sabia disso. Minha amiga me contou.
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SYLVIA LOEB – É psicanalista e escritora. Visite seu site, acesse sua página no Facebook ou escreva para o email [email protected]!
a crônica fala de defesa e de proteção, de vulnerabilidade, mas toca em uma indagação, uma pergunta sobre nossa identidade quando somos feridos, subjugados, espancados, perdemos o eu? Melhor com implantes; e a raiz? Como recuperá-la?
Liliana, seu comentário coloca questões pertinentes.
Em um documentário da Globo foi dito que mulheres que sofrem violência doméstica acabam se mantendo no relacionamento porque perdem a vontade, perdem a noção de si; nas sua palavras, perdem o eu.
Sylvia e Liliana: indagações! Bjo
Pois é querida, você , eu e alguns de nós estamos sempre indagando, não?