manhã, amanhã, sonho,
conto-poema musicado de Leo Forte

Manhê, manhêêê?

Que é filho, você não tá dormindo? Dorme, é tarde.

Manhê, manhã é hoje?

Não, manhã é amanhã.

Manhê, ontem você disse que hoje é amanhã.

É assim, ontem amanhã era hoje, entendeu?

Hum, hum… Manhê?

O que foi agora? Já falei, dorme.

Eu vou morrer amanhã?

Todos nós vamos morrer um dia, não amanhã. Um dia, daqui a muitos e muitos outros dias. Agora dorme.

Manhê o pai virou estrelinha? Você disse.

Virou filho, virou sim. Agora dorme.

Por que virou estrelinha?

Pra toda vez que você olhar pra ela, ela piscar e aí é como se ele te abraçasse.

Manhê, as estrelinhas também têm medo da chuva como eu. Porque cada vez que chove elas se escondem.

Não, filho, elas ficam atrás da chuva, lá no alto.

Eu também corro pro quarto e fico no cantinho.

Dorme filho, é tarde.

Manhê, eu não quero ser estrelinha.

Por que filho?

Porque tá muito longe, lá no alto. Quero ser vaga-lume.

Por que vaga-lume, filho?

Porque abraça mais de perto, ele chispa, recendeia, desfagulha, uma beleza!

Onde você aprendeu isso, menino?

A moça falou no radio da vó.

Tá bom, agora dorme, sonha com o seu vaga-lume.

A benção manhê, vou sonhar…

Letra da música do sonho do menino:

Vagalume

Chispa chama
Recendeia
Descandeia
Refaísca

Desfagulha
Recentelha
Desatiça
Recintila

Descorisca
Relampeia
Desestrela
Reacende

Reluzente
Desilude
Renitente
Vagalume

Manhã
Manhã
Manhã eh
Manhã
Manhã

Pisca-pisca pesca o olho com a luz da sua isca
Quando apaga recomeça como o ar que se respira
Fogo fôlego varia como a água que respinga
Uma coisa tão pequena pode transformar a vida

Manhã
Manhã
Manhã
Manhã
Manhã
Ah ah ah ah, ah ah ah ah ah

Música: Vagalume, composição de Arnaldo Antunes e Marisa  Monte

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