Antes de eu nascer, minha mãe não existia. Mas depois que eu nasci, vim a conhecê-la e ela passou a existir (para mim).
Ela era um mundo inteiro de peitos, com leite quentinho e cheiro macio e pele doce e vozes amáveis.
Só depois que eu nasci pude conhecer minha mãe, é claro.
Gostaria de tê-la conhecido antes, para saber o que pensava, o que sentia, a quem amava e se me queria… Antes de eu ter nascido.
Mas só conheci minha mãe depois que nasci. E aí não vale, porque depois que nasci minha mãe nunca mais sentiu o que sentia, nem amou o que amava e nunca mais foi quem era antes. Só porque eu nasci.
Ela se reduziu a um mundo inteiro de peitos com leite quentinho e cheiro macio e pele doce e vozes amáveis… E afazeres e sofrimentos e medos de me perder, e esqueceu quase tudo de si, porque mãe, quando eu nasci, era mãe em tempo integral. (Nem bom, nem ruim. Não me lacrem, nem me elogiem. Era assim. Era a minha mãe!).
Gostaria de tê-la conhecido jovem, sem mim nos braços. Mas só conheci minha mãe, depois que nasci.
Sinto falta de seus cheiros macios, de sua pele doce e de sua voz, já insegura e ansiosa, na velhice, todos os dias ao telefone dizendo: “fica com Deus, Nossa Senhora e São João Bosco, seu padroeiro, filha, MAS FECHA A PORTA COM A CHAVE!”
Bela homenagem à sua mamãe, querida Zulmara. 🌻