Clube dos Escritores 50+ Zulmara Salvador Linha de passe/ Imagem gerada por AI

LINHA DE PASSE, poema de Zulmara Salvador

Não passa a dor da mãe sem o filho.
A raiva do inimigo,
não passa.
Não passa a fome do mendigo.
O calafrio do febril,
não passa.

Não passa o medo do escuro.
Não passa a asa da borboleta pelo casulo quebrado.
Não passa o carvão preto do ciúme nos olhos do enganado.
Não passa.

Não passa a lotação da meia noite

        não passa

               não passa

A solidão do moribundo não passa.
Não passa a deformidade do corcunda.
O romântico do amor,
não passa.
Sem analgésico a dor,
não passa.

Não passa a noite na Finlândia.
No deserto seco o dia não passa.
Não passa a lesma pelo asfalto molhado
        não passa

               não passa

Pelo salto o esportista não passa.
Não passa a ferro o aleijado.
Não passa medo o bombeiro.
Não passa café a chaleira.
Não passa vergonha o deputado.
Do último andar, o elevador não passa.

Não passa tédio o astronauta.
Da morte, o arrogante não passa.
Não passa dúvidas a santa na fogueira

        não passa

               não passa

Não passa no barbeiro o careca.
A argamassa no pau a pique,
não passa.

Não passa de fofoca o programa da tarde.
De fumaça, a fake news não passa.

Não passa pelo muro o pobre

        não passa

               não passa

Não passa de sonho, a Paz!

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