Não passa a dor da mãe sem o filho.
A raiva do inimigo,
não passa.
Não passa a fome do mendigo.
O calafrio do febril,
não passa.
Não passa o medo do escuro.
Não passa a asa da borboleta pelo casulo quebrado.
Não passa o carvão preto do ciúme nos olhos do enganado.
Não passa.
Não passa a lotação da meia noite
não passa
não passa
A solidão do moribundo não passa.
Não passa a deformidade do corcunda.
O romântico do amor,
não passa.
Sem analgésico a dor,
não passa.
Não passa a noite na Finlândia.
No deserto seco o dia não passa.
Não passa a lesma pelo asfalto molhado
não passa
não passa
Pelo salto o esportista não passa.
Não passa a ferro o aleijado.
Não passa medo o bombeiro.
Não passa café a chaleira.
Não passa vergonha o deputado.
Do último andar, o elevador não passa.
Não passa tédio o astronauta.
Da morte, o arrogante não passa.
Não passa dúvidas a santa na fogueira
não passa
não passa
Não passa no barbeiro o careca.
A argamassa no pau a pique,
não passa.
Não passa de fofoca o programa da tarde.
De fumaça, a fake news não passa.
Não passa pelo muro o pobre
não passa
não passa
Não passa de sonho, a Paz!
Muito bom, Zulmara, conseguiu cadenciar o que não passa, não atravessa, nos perpassa!
Muito bom, Zulmara!
Tanto impasse vira poesia forte que força passagem martelada do não passa!