Clube dos Escritores 50+ Carlos de Castro Jovens no Centro de Sâo Paulo

Jovens no Centro, por Carlos de Castro

Quando cursamos o Científico, no final da década de 60, fazíamos uma ou outra incursão ao Centro de São Paulo. Afinal o CESP era ali no Parque D. Pedro II e os ônibus que iam para os bairros e particularmente para a Mooca – o Vila Bertioga, o Oratório ou o José Higino – tinham seu ponto inicial na Praça Clóvis. Eram aquelas típicas reuniões de moleques, brincando, papagaiando e zanzando pela Rua Direita, Praça da Sé, Rua São Bento e arredores. Me lembro de colegas mais engraçados, como o Zeca e o Michel, que aproveitavam essas incursões para imitar e deturpar os gritos dos camelôs e vendedores de bilhetes de loteria.

Com a passagem para a etapa universitária aquele grupo se dissipou. Entretanto, eu e o Decio, que morava perto de casa, continuamos mantendo contato aos finais de semana. A partir desses contatos é que planejamos nossas viagens de férias e também que nasceu a ideia de começar a descobrir outros encantos do Centro.

Sim, encantos do Centro de São Paulo: as grandes lojas, o comércio diversificado e especializado, as livrarias, as lojas de discos e de equipamentos de som. Tudo isso atraía nossa curiosidade, mas havia dois pontos que se destacaram na nossa vida dos jovens universitários: os chopps e as meninas.

          – os Chopps: é, assim mesmo, sempre no plural, como bem quer o “paulistanês” castiço. Pois é, cabe aqui uma explicação. Por que, de repente, começamos a gostar de chopps? Sou levado a crer que o gosto pela cerveja e consequentemente pelo chopps é uma das primeiras coisas que se aprende no ambiente universitário. Um fenômeno quase universal e atemporal, qualquer que seja a faculdade cursada, graças às frequentes festas de confraternização e “chopadas”. Pelo menos era assim. Terá mudado? O fato é que já tínhamos mais de 18 anos e descobrimos o grande prazer que era ir até o Centro e, depois da visita a uma ou outra loja, entrar num daqueles agitados restaurantes ou lanchonetes e, já tendo aprendido a saborear as ‘louras geladas’, pedir nossos chopps com porções de batatas fritas. Com base nesse acompanhamento trocávamos ideias, elaborávamos planos e começávamos nossas elucubrações sobre os infinitos mistérios do mundo. Um pouco como voltamos a fazer cerca de cinquenta anos mais tarde, só que agora acompanhados pelo café, o pão de queijo ou o canolli;

          – As Meninas: Ah, as meninas. Nessa idade, é um tanto quanto inevitável, as atrações se intensificam. Tudo bem, depois daquele ano de imersão total nos estudos que foi o ano do cursinho e do 3º científico, os     bailinhos do bairro já começavam a fazer parte da vida novamente, uma paquera aqui e ali, mas nada mais sério ainda havia pintado. E, de repente, descobrimos que, ao ‘navegar’ dentro da massa humana que sempre ocupava o Centro, algumas personagens chamavam imediatamente a atenção. Diria mesmo que criavam uma certa perturbação nos jovens rapazes. As meninas, aliás, sabiam disso e desconfio que tinham um certo prazer em despertar desejos e torturar as mentes masculinas. Diga-se de passagem, era a época das minissaias, o que só favorecia as torturas. Numa dessas incursões percebemos como era relativamente fácil para uma dupla de rapazes abordar uma dupla feminina. Era o que eu denominava a “teoria das duplas”. (Não vou aqui discorrer sobre o tema para não desviar do assunto). O fato é que, graças ao emprego das técnicas preconizadas pela dita cuja teoria, conseguimos engatar algumas paqueras e encontros bem-sucedidos.

Pois é, aquele foi um período de agradáveis incursões para os dois amigos no Centro de São Paulo. Um Centro que era acolhedor e estimulava o encontro e a descoberta. Fica o desejo de que a condição de degradação dos últimos tempos seja revertida. O desejo de que novos jovens possam curtir aquela região e, parafraseando Caetano: “Alguma coisa aconteça em seus corações, que só quando cruzem a Ipiranga e as avenidas São Joões.”    

Um comentário

  1. Ah Carlos… Quantos ‘choppsssss’ tomei no Centro de São Paulo. Bar Brahma, Um Dois Feijão com Arroz, o Bar do Filé… as boates ‘inferninho’. A gente saía da USP e ia pra lá. Hoje evito ir, mesmo de dia… pena. Adorei lembrar. Obrigada!

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