Deixei uma revista sobre a mesa do escritório debaixo de um livro. A revista é uma edição da Fapesp sobre Alzheimer (11/018). Tenho interesse em saber a respeito desta doença – com algum cientificismo – por razões que só a mente conhece: medo do tempo que passa.
Mas as coisas aconteceram assim:
Mais ou menos um mês atrás, depois de pedir licença à secretária sentada à minha frente, embolsei a revista com o propósito de lê-la assim que chegasse em casa na esperança de ter um assunto para conversar com meu médico, o dono da revista, afinal ele é psiquiatra.
Hoje encontro-a exatamente onde a deixei: debaixo do livro comprado no mesmo dia da revista ganha. Seu título: “O Mundo Que Não Pensa” (Franklin Foer) e abaixo deste a frase: “A Humanidade diante do perigo real da extinção do Homo Sapiens”.
Joguei a revista no lixo sem ler, foi quando me dei conta do livro. Os dois temas, tanto o da revista quanto o do livro me causam o mesmo assombro: a possibilidade de esquecer que estamos vivos se portadores da doença ou, esquecer que estamos vivos num mundo que não pensa.
Não só acho como tenho certeza que sempre houve uma parte maior do mundo que não pensa, já entre os Homo Sapiens velhos de milhões de anos. Só um inventou a roda!
Vamos supor que o mundo, tal qual o conhecemos nesse momento, escolha não pensar. Imaginemos que no futuro longínquo um algoritmo criado pelo Ser Humano seja capaz de criar um novo Homo Sapiens, digamos, mais pensante do que somos hoje, este Homem voltaria à idade da pedra? Ou seria capaz de criar vida em Marte? (Acredito em ficção cientifica! É o inimaginável hoje acontecendo sem estarmos cientes da possibilidade futura).
Mais filosófico, Ricardo Piglia em Os Diário de Emilio Renzi afirma sua crença de que o universo se mantém apenas porque continuamos a contar histórias.
Estamos contando histórias há muito tempo!
Voltei de um giro pelo outrora território do Império Austro-húngaro. Praticamente o berço da História e Cultura, geradas entre o final do século XVIII até nossa Era.
Lá aprendi que conhecer a História é diferente de enxergá-la. Ela se constitui quando está construída nos palácios, igrejas, cemitérios e sinagogas. Realiza-se quando se “vê” a intolerância de povos dizimarem uma população inteira, por acaso de judeus na maioria – e outras minorias – de seu território e com que crueldade foram perseguidos, ofendidos, odiados.
Ao voltar, com este exemplo em mente, conclui que o mundo não pensa. Ele segue lunáticos pelo poder e infinita capacidade de destruição em todas as passagens históricas conhecidas.
Penso que, apesar de hoje conseguirmos acreditar em um mundo distópico, nos recusamos a pensar em nós mesmos como um Homo Sapiens INACABADO e por isso mesmo vivendo em um mundo que não pensa!
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BETTINA LENCI – Uma empresária que se realizou tendo como início profissional a história da arte e a fotografia, mas que, posteriormente, descobriu que lendo e escrevendo é possível criar um mundo com um olhar agudo sobre o cotidiano de todos nós.