Meu avô Moises me ensinou a ser irreverente, porque ele era irreverente e culto. Estudando em seminário porque lá ele não pagava nada, falava grego antigo e latim, conversando com Monsenhor Fleury, seu melhor amigo, que vinha de Patos de Minas, sempre que podia, pra casa da Sinhá e do Moises. Uma menina corria em volta deles, e corria pra lá pra cá, porque ela não sabia andar, quando seu avô estava presente com o Monsenhor Fleury. Sofro de irreverência, não reverencio ninguém. Deus anda comigo pelas campinas. Não preciso de igreja pra rezar. Minhas risadas e meus risos são orações. Pelas campinas amo meus amigos, e todos os homens e mulheres do mundo. Meu corpo envelhece, minha alma é a menina que corria em volta de Moises, farmacêutico, e do Monsenhor Fleury. Gente, vocês não acreditam! Descobri agora que, o médico que tanto admiro, respeito, me sentindo abençoada em ser por ele cuidada não é freudiano, embora seja uma espécie de Freud do século XXI, simpático e amoroso como Freud foi com seus pacientes. E culto. Ele se senta atrás de sua mesa, e eu de olhos arregalados do lado de cá, eu o espio. Na sala dele tem muitas pedras, quadros na parede. Ele tem uma secretária jovem e bonita, xará de minha filha Andrea, que por sinal me acompanha junto a ele. O médico bendito, que não é freudiano. Freud explica.
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ELIANE ACCIOLY – É psicanalista e artista. “Aprendiz. Vivo os intervalos. Viver é surpreendente. Em certa pequena medida criamos nossas vidas. Não posso mudar o mundo, mas parcelas da vida e do mundo sim.”
Não entendi:
Seu medico hoje, qual a relação com seu avô e Monsenhor Fleury?
Porque o espanto do seu medico não ser freudiano?
O trecho sobre ser irreverente e gostar do mundo campina afora, eu gosto!
Corri com você pra lá e pra cá, dei risada junto, fiquei irreverente agora, e muito espantada que seu analista não é freudiano, embora seja culto, goste de pedras e seja amoroso!