Em construção,
por Sylvia Loeb

A estrutura é complexa. 
Desde a origem, a presença de dois centros de força. 
Um no topo, abrigado  dentro de um cilindro com paredes reforçadas, por proteção. É o centro de planejamento com baixa temperatura ambiente a fim de funcionar em toda sua especificidade. Qualquer avaria seria fatal, a construção não se manteria. 

O outro  encontra-se alojado em um espaço de menos precaução, no centro da montagem, sem barreira de resguardo, o que faz pensar que seria um núcleo de menor importância, mas não é o caso, pois se sofrer alguma injúria vai comprometer todo o resto. É o núcleo de força quente, que embora poderoso, só funciona se houver comando do topo.

Do arcabouço saem quatro prolongamentos laterais articulados em vários lugares, que faz deles instrumentos interessantes para exercerem as mais diversas funções, tanto centrífugas quanto centrípetas. Funcionam como alavancas de aproximação, de afastamento, de rotação, em resumo, todos os movimentos necessários para que a estrutura seja autônoma.

Os extremos dos prolongamentos são dotados de pequenas extensões com função mais refinada. Têm extraordinária capacidade de apreensão, desde grandes objetos até os mais ínfimos, admirável.

Desde o início percebe-se que será uma obra de excelência observadas determinadas condições absolutamente necessárias: material de primeira qualidade, manutenção periódica, uso cuidadoso dentro das especificações. Se cumpridas, deverão garantir alta performance. 

Não se aceita troca ou devolução, no máximo substituição de algumas peças isoladas. 
Em futuro próximo todas poderão ser trocadas ou atualizadas a fim de que eu possa viver eternamente.

2 comentários

  1. Somos construídos? Montados ou animados por algum espírito? Ciborgs do futuro, inteligência artificial, construção de almas são narrativas, e por aí vai, especulações derivadas de construções …

  2. Loeb! Que pesquisa interessante a sua! Este conto está na borda do humano… Eu me lembrei daqueles filmes de Cronenberg – em que a gente vê o fascínio dele pelas máquinas [lembrei tbm de Capek, o escritor tcheco, que foi quem criou a palavra ‘robot’…].

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