Dizem que se chama drosóphila. Não sei.
É a mosca da fruta. Ela não está na sua casa. Não tem ninguém em casa.
Então você vai ao mercado e compra banana. Uma dúzia. Leva pra casa, põe na fruteira.
Não demora muito, logo aparece uma mosquinha atraída pela banana. Onde ela estava antes da banana chegar? A mosca da fruta fica deitada em algum lugar da cozinha das casas das pessoas esperando a vida toda alguma banana chegar? Ou ela fica em pé? E, neste caso, não se cansa?
As palavras adormecidas nos livros são como as moscas da fruta. Elas ficam quietas até que alguém chega para lê-las. Então elas começam a esvoaçar em volta da cabeça do bem-vindo leitor, num enxame.
Trecho do livro Baleiazzzul, de Sergio Zlotnic [Baleiazzzul – sergio zlotnic – editora hedra – 2013].
https://www.hedra.com.br/livros/baleiazzzul
SERGIO ZLOTNIC – Psicanalista, é Pós Doutor em Psicanálise pelo Instituto de Psicologia da USP. Pesquisador dos diálogos de Freud com os campos da arte. Colunista do Portal da SP Escola de Teatro. Pela Editora Hedra, lançou o livro de ficção Baleiazzzul, alusão ao atravessamento do processo psicanalítico. [email protected]
ANNA JUNI nasceu na cidade de São Paulo em 1989. Graduou-se em Arquitetura e Urbanismo na FAU Mackenzie em 2013 com o trabalho “Informateca do Gasômetro”, indicado ao 25º Ópera Prima e vencedor do Concurso Nacional de Monografias.
Atualmente é sócia do escritório de arquitetura Vão, junto com os arquitetos Enk te Winkel e Gustavo Delonero. Entre os reconhecimentos que o escritório tem obtido, destacam-se o 2º lugar no “Concurso Nacional Anexo BNDES” no Rio de Janeiro, em 2014, e o 1º lugar no “Concurso Internacional Geometrías Invisibles” na Cidade de México, em 2015, organizado por LIGA, espacio para arquitectura.
Entre outros projetos, o Vão dialoga com as artes plásticas, através de colaborações regulares com artistas contemporâneos.
Texto maravilhoso! Excelente fragmento de literatura.
Acho que vou comprar o livro.
Olhar com lupa o aparecimento dessa mosquinha insignificante e comparar a vidinha delas com as palavras adormecidas, que surgem, não se sabe de onde, é muito instigante.
Parabéns!
O livro é ótimo¡
Nossas drosóphilas querem que cheguem as bananas? – ou nossas bananas querem que cheguem as drosóphilas?! A coisa é complexa! <3
é um querer que voa e zoa nas duas direções, assim acho eu
seria um campo de ‘reciprocações’??
As drosóphilas pousam sobre bananas já quase caindo de maduras..
Bananas verdes não lembram palavras adormecidas.
Precisam envelhecer primeiro!!
Celia Alves! Lindo poema! 🙂
Irene! boa sacada! tudo a ver com fifties, não??
Banana
Q Nana
A Mora
De mosca