Mengálvios, não devem existir muitos. Não sei por que cismei com ele hoje. Deve ser por causa da ausência de heróis, que levam a gente a invocar a turma do segundo escalão. Os atores coadjuvantes da vida, sempre tão necessários aos narcisistas.
Zito e Mengálvio.
Do Zito, sempre a gente se lembrou, porque era o primeiro nome. Como Zanata e Liminha. O Liminha, também, onde anda? Dele lembro o golaço no Fla-Flu de 1969, final sofridíssima para os rubro-negros. O Fluminense ganhava e o nosso espetacular goleiro, o Dominguez, fez uma domingada qualquer e acabou expulso, em plena final de campeonato. Dizem as péssimas línguas que ele teria, bem, recebido, bem, um certo estipêndio, naqueles tempos em que isso era um escândalo.
Mas deixa pra lá. O que importa é que o Liminha, no único chute que acertou na sua vida, meteu um golaço, com um chute de fora da área que entrou no ângulo da, assim chamada na época, meta, defendida por Félix, empatando o assim chamado prélio, que terminou…bem, isso é outra história.
Eu falava do Zito e do Mengálvio. O destino dos meio-campistas é o gol contestado, como o do acima referido Liminha, cuja incapacidade para a finalização foi aqui levemente sugerida.
O Zito, por sua vez, fez um gol esquisitíssimo na final da Copa do Mundo de 1962. Disseram que foi de peito. Foi mesmo. De peito varonil, de peito verde e amarelo, da pátria amada, salva salva naquele momento em que o jogo com a então Tchecoslováquia estava empatado em um a um.
O Gérson, da dupla Clodoaldo e Gérson, que de caipira nada tinha, fez a mesma coisa no Brasil e Itália de 1970. Jogo empatado e o Gerson, com a canhota de ouro, que nos ajudaria a ganhar a Jules Rimet, também de ouro, posteriormente derretida, em prenúncio de novos tempos, bem, o Gérson inspirou-se no Liminha, no Zito e no destino épico dos meio campistas e, na gaveta, no ângulo, com todo o respeito, carimbou a forquilha do Zoff.
Mas, o Mengálvio, Mengálvio….não há registro de gols memoráveis ou de jogadas geniais suas; no entanto, o nome estará definitivamente gravado na memória daqueles que acompanharam as epopéias do Santos Futebol Clube, entre os anos 1960 e 1965. O rádio de válvulas custava a esquentar e nós guardamos na alma os ruídos, chiados e interferências que vinham do Estádio do Benfica e de San Siro de Milão, onde se consagravam bicampeões do Mundial Interclubes nossos heróis de infância.
Entre eles, rosto comprido, o Mengálvio, nome único, raro, e detentor da maior das glórias aos olhos dos meninos de então: era ele, e não Pelé, a figurinha carimbada do álbum de figurinhas Copolino, cuja página, preenchida com a raríssima efígie do modiglianesco meio-campista, dava direito a ofertar para a mamãe um maravilhoso liquidificador Walita, com copo de vidro, para fazer as vitaminas de aveia que merecíamos por nosso esforço e mérito no bafo-bafo.
O que era bafo-bafo? Isso também é outra história.
Glossário específico: Domingada, uma jogada grotesca, grosseira, incomparável com os exemplos do magnífico beque Domingos da Guia.
Puxa não conhecia o Mengálvio… crônica gostosa.
Que bom tê-lo por aqui, mister Schlesinger. Vejo que os bons tempos da genuína crônica carioca estão de volta. Salve o Mengálvio! Será que existiria um Flugálvio??
Obrigado. Boa pergunta! Abraço
Que interessante!!!
Não sabia de nada disso e fiquei boquiaberta com a memória deste querido escritor, Schlesinger!
Delícia de crônica. Boas recordações futebolísticas e do indefectível jogo de bafo da molecada. Parabéns xará!
Grande crônica de futebol. Nada como um carioca para escrevê-la.
Parabéns!
Entendo mais de crônicas bem escritas e pouco de poesia mas uma boa crônica como esta do futebol é uma crônica com poesia.
Corre solta no gramado!
Do futebol e seus atores, só me lembro mesmo do goleiro Félix, mas a crônica é uma delícia de se ler!