Post Clube dos Escritores 50+ Luiz Aun Distantes

Distantes
por Luiz Aun

Distantes ….

A atração sempre existiu.

Ficou cada dia mais distante, mas nunca deixou de existir. 

Mudou de andar, não era prioritária, não se necessitavam mais.

Mas, sem perceber, e de modo subliminar, mas consciente, deixaram adormecer para viver algo mais palpável.

Menos fugaz.

Ao menos durante uma década se tiveram sem se possuir.

Consumiram o melhor deles.

O fortuito, o secreto, que esconderam até deles mesmos.

Tiveram de cada um o humor, a sensualidade, a discrição, a tristeza calada para não poluir o sentimento negado.

O apoio viril masculino e a ponderação feminina foram trocados.

Foram homem e mulher, companheiros e cúmplices.

Passaram este tempo próximos, de físico e de alma.

Não aconteceu!

Hoje, transitam distantes um do outro. Se pensam. Se sentem. Se desejam.

O pensar, na solidão de seus banhos, no toque breve de seus corpos, traz cada um de volta a cada outro.

O físico não exercitado de imediato torna o desejo atemporal, perene e sonhado.

Nem as imperfeições implacáveis do tempo são capazes de apagar ou turvar a imagem guardada.

Uma vez ativada a célula sensorial da atração, ela só se apaga na busca incansável do prazer. 

Eles não o tiveram.

Sabiamente deixaram isso preservado na memória desta célula.

O reencontro esperado nunca se deu.

Souberam um do outro pelos próximos.

Informações breves, sem cor.

Estes não os conheciam. Sequer supunham de seus íntimos quereres.

Não desfrutaram de suas intimidades.

Não sabiam do que se passava em seus sedentos corpos, memórias e sensações.

Ele guardou dela seu cheiro, suas palavras e seus gestos.

Ela guardou dele seus gostos, suas contradições e sua fragilidade mascarada.

Para eles cada um ainda é o viço da juventude, a esperança, e a liberdade.

Temem revelar isso a seus netos.

Temem, ardorosamente, ler a necrologia no jornal…

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