Poema inédito de Faca no coração, o novo livro de Marco Aurélio Fernandes, lançado pela Riemma Editora.
Impávido, esperei à mesa
do barzinho a sua chegada,
antecipando a triste certeza
do fim, logo após revelada
por seus olhos sem viço.
Intrépido, paguei a conta
e sugeri o mesmo hotel
insípido, para o desenlace
insólito, de uma relação
anódina, cuja maior afronta
foi não superar a proposição
de um amor sem compromisso.
Na sua marmórea face
restava a fria impressão
de um afeto, que abortado
impútrido, poderia ser semeado
quiçá alhures, em terras
mais propícias.
Pálida ainda, mais tarde
tirou-se no espelho uma medida,
como quem vê a realidade fora,
nos reflexos, nas sombras e projeções.
Cética, evitou qualquer contato,
como quem não quer mais olhar para trás.
Crítica, lançou-me em seguida
toda a negatividade da contida
ótica particular de seus
inexoráveis fantasmas desta vida.
Não houve adeus.
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MARCO AURÉLIO FERNANDES é arquiteto de formação. É muito ligado à busca interior e apaixonado por Astrologia, que estuda há mais de 30 anos. Já publicou o livro infanto-juvenil, ‘Raio de Sol e a Maldição do Dragão’, e, em 2019, pela Riemma Editora, ‘Faca no coração’, livro de poemas, crônicas e contos.
O silêncio desse desenlace contém um grande discurso. Muito bom.