Achava-se feia. Cabelos ralos, o nariz achatado no meio da face dava-lhe uma expressão de um bebê mal crescido, olhos pequenos, pernas finas. Mais tarde, cresceu-lhe barriguinha redonda, o quadril ainda estreito, os pés muito grandes. Seios pequenos e estômago protuberante se juntavam numa linha sem curva, que deveria ser a cintura. De belas, só as mãos, alvas, dedos longos, unhas que pareciam amêndoas levemente rosadas.
Queria ser bela, bonita como as amigas. Não maravilhosa como elas, apenas bonita. Sentia inveja delas.
O tempo passou, conheceu um homem que se encantou com ela; casou-se com ele que a amava, achava belas as suas mãos! O que fazer com belas mãos? Faziam contraste ainda maior com o resto, acentuavam a feiúra.
Teve filhos, dois meninos e duas meninas, que graças a Deus, não eram parecidos com ela.
Foi vivendo a vida, o travo de amargor, só ela o sentia. Quem a visse pensaria mulher realizada, com belos filhos, ótimo marido, apesar da aparência, coitada.
Um dia recebeu um convite de aniversário de formatura. Tinham se passado trinta anos! E uma das colegas teve a idéia de juntar a turma.
Seu coração deu um pulo de alegria e susto. Rever os colegas, a amigas, depois de tanto tempo! Iria ou não?
Sua feiúra, ainda mais acentuada com o passar do tempo, o nariz maior, os cabelos mais ralos, a barriga e o estômago num volume que definitivamente apagara a linha da cintura.
O marido deu força, insistiu, iria junto, mostrariam as fotos dos filhos.
Deixou-se convencer com relutância, com medo de reencontro. Sempre teria o marido para mostrar, troféu imerecido.
Festa maravilhosa. Uma surpresa! Sentia-se cada vez melhor, mais à vontade, cada vez mais feliz. O marido espantou-se, depois alegrou-se com a felicidade da mulher.
Beberam, dançaram, riu muito, riu demais, conversou com todas, atenta, olhando com cuidado redobrado as rugas disfarçadas, os pés de galinha, os cabelos mais opacos, outros mais ralos, os seios caídos ou muito empinados, os rostos plastificados, as bocas rejuvenescidas artificialmente, algumas obesas, outras esqueléticas, todas, mas todas, perdidas de suas belezas.
Finalmente entre iguais!
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SYLVIA LOEB – É psicanalista e escritora. Visite seu site, acesse sua página no Facebook ou escreva para o email [email protected]!