Téc…tum! Téc…tum! Téc…tum! Téc…tum!
Minha mãe, ops! desculpem, mamãe, não admitia que eu e meu irmão, a chamássemos de outra forma que não mamãe. Casou-se muito jovem, com 16 anos, aos 18 já tinha os dois filhos com diferença de apenas 20 meses. Jovem, bonita e muito vaidosa, acho que não queria que os filhos crescessem para não sentir o envelhecer. Filha de fazendeiros das antigas tinha o hábito de mandar e nunca admitir erros.
Era engraçada em algumas coisas; tinha um humor crítico, ácido e incorreto, que conservou até sua morte. Punha apelido em tudo e todos, talvez para esconder uma possível deficiência de memória.
Certa vez no meu sítio, apresentei o caseiro, Gervasio, que tinha um problema em uma perna, o que o fazia andar mancando.
Quando nos preparávamos para ir embora, mamãe queria levar umas frutas, e disse, apontando o caseiro.
– Fala pra aquele lá pegar umas laranjas e abacates que eu vou levar.
– Que aquele lá, ele tem nome, é Gervasio, esqueceu?, respondi bravo.
Como jamais admitia ter errado ou esquecido disse:
– Certo, então vou chamá-lo de “vinte nove…trinta”.
– Por que, de onde a senhora tirou isso? perguntei.
– Olha só como ele anda, disse, repetindo, “vinte nove…trinta”, “vinte nove…trinta”, “vinte nove…trinta”.
Refrão que batia mesmo com a forma de andar de Gervasio.
Todos os que estavam por perto riram, fiquei furioso, mas não adiantava brigar, essa era mamãe.
Téc…tum! Téc…tum! Téc…tum! Téc…tum!
Com um problema recente no meu quadril só hoje atentei, o som do meu andar no corredor de casa é esse.
Se mamãe estivesse por aqui, com certeza me chamaria de Téc…tum!
Sua benção, mamãe?
Deus te abençoe Téc…tum!
Mãe.. ops. Desculpe, mamãe, é fogo, né? Adorei
Léo, na primeira leitura senti falta de alguma ligação de seu texto com o universo musical, como você já fez de outras vezes. Até que Téc…tum daria samba. Depois percebi que seu pequeno conto é uma pérola por outras razões: você introduziu um personagem original, apresentou sua mãe, conversou com ela e recebeu sua benção. De quebra, os leitores foram também abençoados…
Oi, Leo. Que beleza de texto. Adorei. Fluente, humorado, leve, instigante e inteligentíssimo. Uma joia. Parabéns.
Somente um ouvidor de musica como
Tu para criar um ritmo q apenas ouvidos alertas escutam no silencio da cabeça.
O texto é otimo. Muito engraçado e nos conta – com poesia- algo comum mas q descartamos como banal. Obrigada. Bj
Léo, será que somos primos? Será que minha mãe era irmã da sua mamãe? Li rindo aqui, só imaginando a cena, hahaha.
Beijos