Clube dos Escritores 50+ Carlos de Castro Corre Cutia/ Imagem gerada por AI

Corre Cutia, por Carlos de Castro

Por vezes uma palavra chega até nós por diferentes caminhos e levanta dúvidas sobre sua origem e grafia correta. Me aconteceu outro dia. Rolava uma dessas “confras” de Natal – como dizem os mais jovens – e surgiram notícias sobre obras na região de Cotia. Alguém aproveitou o gancho e contou uma história sobre a Cutia, o bicho.

Fui atrás das informações e confirmei que o nome oficial do município é Cotia, com o mesmo. Já os dicionários registram o simpático roedor como Cutia, com u. Portanto as duas palavras existem e podem conviver sem problemas.

Descobri que a origem do termo vem do tupi “aku’ti” que nomeia o pequeno mamífero roedor. A cutia tem hábitos diurnos e era até criada como animal de estimação pelos indígenas. Quem sabe se a imemorial brincadeira infantil, o corre-cutia, não tem sua raiz na época colonial quando os nativos aculturados viviam junto com os primeiros brasileiros, especialmente com as crianças. Quem sabe?

Há outras versões, mas a letra que conheço da cantiga é:

Corre cutia na casa da tia

Corre cipó na casa da avó

Lencinho na mão caiu no chão

Moça (ou moço) bonita (o) do meu coração.

Lembram?

Volto a nossa “confra” para relatar a outra história da cutia. Sabe-se que ela é um dos principais dispersores das sementes da castanheira-do-pará, ou castanheira-do-brasil. É o único bicho que consegue quebrar e roer a casca para comer a amêndoa. Na época da “safra”, como a produção de sementes é grande, a cutia guarda uma parte para futuro, enterrando-as em diferentes lugares. Supunha-se que ela acabava esquecendo de algumas o que possibilitaria a germinação e dispersão natural da árvore.

Não é que pesquisadores resolveram acompanhar “in loco” para confirmar essa hipótese e descobriram que nenhuma cutia monitorada esquecia onde havia escondido suas sementes. Então como acontecia a dispersão? Surge outro personagem na história: a onça. Sim, só germinavam as sementes escondidas por cutias devoradas pela dita cuja.

Donde se conclui que nem todas as cutias conseguiam correr o suficiente. O que foi ruim pra elas, mas bom para as castanheiras e, claro, para a onças.

Corre cutia!

2 comentários

  1. carlos, caro colega,

    Leve. agradável de ler a sua cutia de cotia que a onça comeu e germinou uma cotia pintada, na boca uma amêndoa.
    Brincadeiras a parte! Há algo de poético e de infantil, comovente , afetivamente real, como quer a natureza.
    abraço
    B

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