CORAÇÃO VERMELHO,
poema de Luciano de Castro para Cora Coralina

Amo tua palavra crua

Teus versos com gosto de chão

Tua prosa decidida, arcaica, vigorosa

Amo tua palavra reta, sertaneja, cheirando a flores do mato

Tua palavra fácil, água corrente, limpa e ligeira sobre as pedras do riacho

Tua escrita forte, fornida, caprichosamente esculpida a machado, foice, formão

Amo tuas frases-caminhos, rastros, cartas, pergaminhos, pedras rombas dos becos  

[De Goiás.   

                                                                                            

Amo teu coração vermelho

Teu destino marcado com ferro em brasa

Teu ofício de doceira, dona de casa, mãe, trabalhadeira

Amo tuas mãos calejadas, teus ouvidos atentos, teus olhos sagazes 

Tua sina de mulher longeva, vivedoura, nômade, caminhante, goiana e retirante

Tua casa da ponte, lapa, masmorra, guardiã de segredos, de ritos longínquos, imemoriais   

Amo-te, Aninha menina, anciã Coralina arrastando as chinelas pelas ruas, vielas da tua

[Velha Goiás.

                                                                                                          

Goiânia, setembro/21

Poema originalmente publicado na Revista HH Magazine: www.hhmagazine.com.br

14 comentários

  1. Dos seus poemas que já li, talvez este seja o campeão. A simplicidade me encanta. Parabéns pelo dom de nos transportar para o doce universo de Cora!

    1. Rosilda, como goiana de boa cepa, você conhece o valor de Cora pra todos nós goianos, os nativos e os adotados como eu. Muito obrigado pelo carinho.

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