Clube dos Escritores 50+ Lilian Kogan Tempo

Tudo muda com o tempo, por Lilian Kogan

Animadíssimas com o passeio de barco pelas doces águas do rio Tapajós, eu e minha amiga Silvia nos surpreendíamos a cada instante com a beleza e a exuberância da Amazônia, em Alter do chão, no Pará. Ao chegarmos ao rio Arapiuns, tive certeza de que não haveria no nosso planeta algo similar: uma praia feita de uma areia fina e clara, que é formada só na época das secas, emoldurando uma imensidão de água doce. Eu me sentia segura no frágil barquinho metálico que atracava na areia. A calma do rio me apaziguava.

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Clube dos Escritores 50+ Bettina Lenci Euclides

15 de novembro, Euclides da Cunha e a nossa moral

O fato ocorreu em nosso território: no Nordeste brasileiro. Um fato histórico. Um equívoco que pode ser interpretado, severamente, sob o olhar ético. No século passado, a recém declarada República empreende uma guerra contra seu próprio povo quando da Batalha de Canudos (1897). Ao Euclides da Cunha descrever o episódio desta guerra infame, ele embute nas entrelinhas do texto o desdém, o desconhecimento que o Brasil tem do ethos e da moris.

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Clube dos Escritores 50+ Leo Forte Suspiro

Suspiro, crônica musical de Leo Forte

Não sei se pelos últimos acontecimentos, ou pela minha idade avançada, recordei uma conversa com minha neta.
Ela tinha oito anos e estava na fase de achar “vovô sabe tudo”. Curiosa como sempre foi, fez uma pergunta peculiar para uma criança:
– Vô, o que é suspiro?
– Ora, querida, é aquele doce, doce, doce, que sua vó faz e sua mãe só deixa você comer um pouquinho.
– Não, vô, não o doce, aquele outro negócio que a gente sente, sei lá…

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Clube dos Escritores 50+ Luciano de Castro Olhos verdes png

Os olhos verdes de Copacabana,
crônica de Luciano de Castro
finalista do concurso Ruth Guimarães, da UBE

Que os cronistas vivem experiências surreais, isso é certo. Alguns as revelam, outros as escondem. Numa crônica de 1934, Humberto de Campos relatou a espirituosa conversa que tivera com um cãozinho vadio no Largo do Machado. Bem antes disso – no longínquo 1892 — Machado não conversou, mas entendeu perfeitamente a linguagem dos burros que puxavam o bonde em que viajava. Os dois muares especulavam sobre o destino que teriam com a chegada dos bondes elétricos. Isso mesmo, leitores: os beneditinos do cotidiano têm a faculdade de se comunicar com os bichos. É raro, mas acontece.

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Clube dos Escritores 50+ Lourdes Gutierres Túnel

O túnel, crônica de Lourdes Gutierres

Lembrei-me do plebiscito da Noruega quando soube da construção de um túnel na Vila Mariana. Não há termos de comparação, afinal o que deu errado por aqui? Por que o povo é alijado de decisões que lhe dizem respeito? Penso na Ágora da Grécia antiga, mas isso também é sonhar demais, reconheço. Tapumes encobrindo o canteiro central da avenida Sena Madureira chamaram atenção dos moradores. Afinal o que está acontecendo, um vizinho indagando o outro. Descobre-se que um antigo projeto começou a ser implementado. Em meio à perplexidade, moradores resolvem organizar o protesto: não ao túnel.

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Clube dos Escritores 50+ Sylvia Loeb FLIP 2024

O festival literário e as pedras de Paraty, crônica de Sylvia Loeb

Cheguei em Paraty no segundo dia da FLIP, depois de seis horas de viagem, em um final de tarde chuvoso. As pedras brilhantes, arredondadas por séculos de tráfego de carros de boi, cavalos, burros e carroças causam admiração e temor. O conhecido “pé -de- moleque”, construído no século XVIII, durante o desenvolvimento do ciclo do ouro.

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Um dia, crônica de Bettina Lenci

O céu violentado de cinza esparramou-se nos meus pulmões, as partículas de violência alojaram-se na garganta e a respiração tornou-se curta. Sim, claro, em uníssono, a razão deste efeito devastador nos terráqueos é divulgada e aceita como suficiente: ninguém se mexe para impedir a queima das florestas! Eu não avisei? Dizem, após a exclamação. Mas por mais que esteja inclinada a colocar minha colher nesse caldo grosso de fuligem, não é este o assunto de hoje, tampouco a sustentabilidade do planeta, nem as ameaças de fim do mundo e menos ainda assumir como humana que a culpa é só minha!

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Clube dos Escritores 50+ Lilian Kogan Rosh Hashaná

EU NÃO CONSIGO, por Lilian Kogan

Queria falar sobre o novo ano que se inicia para nós judeus. Procuro dentro de mim fagulhas de esperança para traduzir tudo que carrego na minha genética espiritual. Mas não consigo honrar em mim o júbilo do legado dos meus antepassados porque só encontro dor no lugar que deveria ser de comemoração. Meus olhos querem ver a beleza da tradição do meu povo, que fez da dor um percurso de resistência e resiliência. Mas meu povo sofre e, ao contrário do que muitos imaginam, queremos viver em paz. Paz com os vizinhos do mundo todo. Há humanistas de peso entre nós. Em Israel, conheci alguns que tocaram meu coração para sempre.

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Clube dos Escritores 50+ Leo Forte

Correto…incorreto, por Leo Forte

Minha mãe, ops! desculpem, mamãe não admitia que eu e meu irmão, a chamássemos de outra forma que não mamãe. Casou-se muito jovem com 16 anos, aos 18 já tinha os dois filhos com diferença de apenas 20 meses. Jovem, bonita e muito vaidosa, acho que não queria que os filhos crescessem para não sentir o envelhecer. Filha de fazendeiros das antigas tinha o hábito de mandar e nunca admitir erros

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Clube dos Escritores 50+ Lourdes Gutierres Silêncio

Onde se fez o silêncio, por Lourdes Gutierres

Ela parece dormir, mas os dedos das mãos se movimentam de forma ritmada. Observo que nela mudanças ocorrem de maneira rápida. Há pouco tempo, apoiada em meu braço, caminhávamos até o jardim da casa. Por lá, canteiros coloridos: rosas, azaleias; de repente, aparecia algum beija-flor se nutrindo no hibisco – olhe, olhe, que lindo! Breve encantamento, logo sumia sem deixar rastros.

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Clube dos Escritores 50+ Lilian Kogan Leques

Dos leques e ventos da memória, por Lilian Kogan

Recentemente num curso sobre a Princesa Isabel, a historiadora que nos dava aula mostrou um slide com um leque feito pela própria princesa. Na ponta de cada vareta, o rosto pintado de algum membro da família.

Se o leque fosse da minha avó paterna, alguns retratos estariam decapitados. Ela nunca aceitou a separação da filha. Dizia que ela merecia ser melhor tratada pelo ex-marido. Enquanto tia Rosa seguia tranquilamente sua vida de desquitada, minha avó ainda esbravejava.

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