Quando quis abrir a porta, fui atacada por uma matilha de cães vadios que, famintos, se atiraram contra o carro, tentando me morder pela janela e a porta entreaberta. Estes rafeiros, beges, de pelo curto, com patas e pescoços longos eram extremamente perigosos e não hesitavam em estraçalhar – e devorar – homem ou animal. Não era à toa que os militares saíam todas as noites para matá-los a tiros de metralhadora do alto dos seus Toyotas.
Continuar lendo#memórias
Prospect Park, por Leonardo Quindere
Na saída da estação “Church” tomei um susto, todos os meus sinais internos de alarme dispararam, sigo ou volto? Era por volta do meio-dia, estava claro, mas senti que talvez tivesse descido na estação errada. Os alarmes, construídos pelos anos de vivência na cidade grande e por preconceitos, dispararam quando vi pessoas de várias etnias numa rua de comércio movimentada e com uma predominância de pessoas pretas. E agora? Fico ou vou?
Continuar lendo#memórias #encontros
Que mistério tem Clarice? por Carlos Schlesinger LIGUE O SOM
Sentada na varanda, com um lenço na cabeça a disfarçar as queimaduras que sofrera por um acidente doméstico, ali estava ela. Uma mulher comum, tomando chá, com bolo ou biscoitos, observada por um rapazola pretensioso.
Continuar lendo#CUIDADO, POESIA
É bom saber! por Tita Ancona Lopez
Nada melhor do que sair fora de qualquer situação opressiva e ganhar o mundo.
Então, carregá-lo, com muito cuidado;
Não se pode esbarrar nem derrubar.
O mundo, se cai, despedaça assim como vidro, em mil caquinhos.
Encontros com Nise da Silveira,
por José Carlos Peliano
Segui o que queria e ganhei o que alumia. Foi desse jeito que cheguei a Nise da Silveira e dela fiquei amigo por alguns anos de encontros, aprendizados e encantamentos.
Continuar lendoAquele era o décimo cigarro…
por Regina Valadares
Aquele era o décimo cigarro. Se continuasse assim morreria de câncer antes do filho se formar. Só mais esse, decretou, enquanto olhava a tela em branco do computador. Escreveria sobre a falta de inspiração, embora isso já tenha sido enredo de filme, de livro, de peça. Acabara de ler Infância do Graciliano Ramos. Estava humilhada. Precisava encontrar a sua voz.
Continuar lendo#memórias
Dona Odete, por Lilian Kogan
“Seria essa a única solução?”, nos perguntávamos quando passamos por uma senhora sentada à sombra de uma árvore lendo placidamente um livro. Parecia ter em torno de oitenta anos, uma postura ereta e jovial, muito bem vestida e um sorriso no rosto. Passei por ela, sorri, ela retribuiu, e eu disse: que delícia ver alguém lendo um livro com tanto prazer.
Continuar lendoDe Dentro do Espelho nº4,
poema de Carlos de Castro
Ouve pouco, fecha-se em si mesmo – mesmo que portas se fechem, ouve
Mentes enrijece, atrofia, mata – mata adentro, espia todos os entes
Continuar lendo#TBT
A&A, por Paulo Akira
– Há quantos anos nos conhecemos?
– Vixe! Não sei.
– Pensa…
– Desde 1972… faz 45 anos.
– Já testemunhou dois casamentos meus e muitas outras coisas.
– Fui eu quem armou um deles.
Lápis de cor, por Leonardo Quindere
Não era muito dinheiro, ela podia comprar, tinha os seus guardados. Não era baratinho também, mas o menino merecia. Ia demorar pra poder usar, mas era um sonho aqueles lápis, vinham em uma caixa de metal com cada um desenhado na capa. O patrãozinho saberia fazer desenhos bonitos com eles, coloridos. Suas mãos agora duras não dariam conta de pegar num lápis, faltavam-lhe firmeza e destreza.
Continuar lendoEntão, São São Paulo Meu Amor, por Carlos Schlesinger
Então, como se diz em São Paulo para iniciar qualquer frase, hoje vou falar da Paulicéia. Em realidade, sobre linguagens e maneirismos, é bem verdade que o baixo Rio de Janeiro inicia suas falas hoje, com um então, o que que acontece (sic).
Então, o que que acontece? Acontece que sou carioca
Continuar lendoTACITAMENTE,
crônica de Luciano de Castro
—Senhor Ronaldo, pode entrar, por gentileza. — Ah, obrigado. Hoje foi rápido, hein! —Sim. O Dr. Marcondes está aguardando o senhor. Segunda porta à direita.
Continuar lendo