…esse tipo de história nasce nos Estados Unidos, pouco depois da Primeira Grande Guerra, quando revistas pulp, como eram chamadas as publicações baratas e sensacionalistas, impressas em papel amarelado, começaram a dar chance para autores que quisessem publicar histórias violentas, mas cheias de humor, que escondiam, sob tramas aparentemente despretensiosas, críticas contundentes à sociedade americana.
Continuar lendoTrespasse,
por Sylvia Loeb
Às 12:20 a luz do sol bate inclemente, fazendo com que a sombra flutue deslocada do corpo, que se move com hesitação. A ilusão da luz faz acreditar que são quatro as pernas, em vez das duas, delgadas, que tentam escalar a parede lisa. Ela tenta e cai, tenta e cai…
Continuar lendoÀs mulheres que nos nutrem,
Lilian Kogan e as mãos que serviam o Pessach
Havia sempre um aroma convidativo no ar. Essa alegria de fazer para os outros me contagiava. Ficar na cozinha era um verdadeiro prazer. E poder ajudar era quase celestial. A colher de pau estendida com a mão de uma delas por baixo, a segurar, para não vazar, o caldo que escorria para dentro da boca, à espera, em coro suspenso, do seu veredito – “mais sal” ou “menos sal” – me colocava no Olimpo da culinária judaica.
Continuar lendoDúvidas poéticas,
de Eder Quintão
Poesia é o que só os poetas sentem/ Ou o que eles sentem é só ela?/Poesia é o que o poeta lembra/Ou o que do poeta se lembra?/Poesia é voz de poeta/Ou poeta é voz dela?/Poesia é chorar a perda/Ou perder-se a chorar?/Poesia é mar de lágrimas sentidas/Ou lágrimas sentidas ao mar?
Continuar lendo#memórias
Adeus, amor
de Sergio Niskier, nosso escritor convidado do mês
Você fechou os olhos há pouco mais de duas horas, e, segundo meus amigos rabinos, sua alma está por aqui, começando a caminhada para o Gan Éden. Todos já se foram, e rapidamente. Agora, totalmente só, encontro apenas você para me fazer companhia.
Continuar lendoOs sapatos sob medida de Leonardo Quindere
Era dia de entrega. Apesar da idade avançada, gostava de fazer pessoalmente. Gostava sobretudo de entregar sapatos para noivos. O casal de hoje conhecia desde criança e, se não estava enganado, havia comparecido ao batizado de um deles. (…) Aquela altura da vida, e tendo visto tantas idas e vindas, se sentia à vontade e obrigado a dar um conselho ou dois.
Continuar lendoMag, Ines e Ana, conhece essa marchinha?
Leia Quando o carnaval chegar,
de Carlos Schlesinger
Na primeira infância, as marchinhas do passado, as meninas vestidas de bailarina, com purpurina no rosto. Um cheiro de lança-perfume no ar, as bisnagas douradas Rodouro, então consideradas inofensivas, as serpentinas multicoloridas, as bandas mambembe do clube tocando Mulata Bossa Nova
Continuar lendo#écarnaval
quem é DONA YAYÁ, a musa do bloco,
por Lourdes Gutierres
Hoje o casarão em que viveu é sede do Centro de Preservação Cultural da Universidade de São Paulo. E as escavadoras da memória do Bixiga saem no Carnaval para contar a história de Sebastiana de Melo Freire — Dona Yayá : “Com tudo que fazia, que não era coisa pouca, com tanta hipocrisia, foi trancada como louca…”.
Continuar lendoCORAÇÃO VERMELHO,
poema de Luciano de Castro para Cora Coralina
Amo tua palavra crua/ Teus versos com gosto de chão/ Tua prosa decidida, arcaica, vigorosa/ Amo tua palavra reta, sertaneja, cheirando a flores do mato/ Tua palavra fácil, água corrente, limpa e ligeira sobre as pedras do riacho
Continuar lendoO SONHO DE OFÉLIA,
por Lourdes Gutierres
Apenas um sonho, nada mais. Foi o que a mãe de Ofélia afirmara após ouvir seu relato ao despertar. Ela preferia acreditar nisso, entretanto a dúvida persistia: será mesmo? Quando na noite seguinte acordou sobressaltada com a mesma cena, entendeu não ser aquilo mera coincidência, teria de buscar o significado daquele sonho: um homem sem cabeça pedindo para que lhe acendesse uma vela…
Continuar lendoREVOADA,
por Tita Ancona Lopez
Hoje lembrei-me das borboletas amarelas. Aquelas, que costumavam visitar a minha e a sua janela e batiam levemente as asas nos vidros. Você se lembra de que roçavam nossa face quando abríamos as vidraças para que o vento nos revoasse os cabelos, nos fechasse os olhos e nos fizesse sorrir? Havia as que entravam dentro de casa tornando a sala cheia da luz que o amarelo traz…
Continuar lendoA DESPEDIDA DA MULHER ÁGUIA,
mais uma história de Blanche de Bonneval
Acabara de me aposentar das Nações Unidas em 2005 e tinha voltado para São Paulo, a minha cidade natal. Até agora, eu percorrera o planeta e atuara em alguns dos países mais perigosos do mundo sempre tentando servir e ultrapassar os meus limites. Se eu tinha a certeza de que todas as experiências que vivenciara me levariam à uma nova vida, eu estava no momento doente e sem rumo.
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