Segui o que queria e ganhei o que alumia. Foi desse jeito que cheguei a Nise da Silveira e dela fiquei amigo por alguns anos de encontros, aprendizados e encantamentos.
Continuar lendoAquele era o décimo cigarro…
por Regina Valadares
Aquele era o décimo cigarro. Se continuasse assim morreria de câncer antes do filho se formar. Só mais esse, decretou, enquanto olhava a tela em branco do computador. Escreveria sobre a falta de inspiração, embora isso já tenha sido enredo de filme, de livro, de peça. Acabara de ler Infância do Graciliano Ramos. Estava humilhada. Precisava encontrar a sua voz.
Continuar lendo#memórias
Dona Odete, por Lilian Kogan
“Seria essa a única solução?”, nos perguntávamos quando passamos por uma senhora sentada à sombra de uma árvore lendo placidamente um livro. Parecia ter em torno de oitenta anos, uma postura ereta e jovial, muito bem vestida e um sorriso no rosto. Passei por ela, sorri, ela retribuiu, e eu disse: que delícia ver alguém lendo um livro com tanto prazer.
Continuar lendoDe Dentro do Espelho nº4,
poema de Carlos de Castro
Ouve pouco, fecha-se em si mesmo – mesmo que portas se fechem, ouve
Mentes enrijece, atrofia, mata – mata adentro, espia todos os entes
Continuar lendo#TBT
A&A, por Paulo Akira
– Há quantos anos nos conhecemos?
– Vixe! Não sei.
– Pensa…
– Desde 1972… faz 45 anos.
– Já testemunhou dois casamentos meus e muitas outras coisas.
– Fui eu quem armou um deles.
Lápis de cor, por Leonardo Quindere
Não era muito dinheiro, ela podia comprar, tinha os seus guardados. Não era baratinho também, mas o menino merecia. Ia demorar pra poder usar, mas era um sonho aqueles lápis, vinham em uma caixa de metal com cada um desenhado na capa. O patrãozinho saberia fazer desenhos bonitos com eles, coloridos. Suas mãos agora duras não dariam conta de pegar num lápis, faltavam-lhe firmeza e destreza.
Continuar lendoEntão, São São Paulo Meu Amor, por Carlos Schlesinger
Então, como se diz em São Paulo para iniciar qualquer frase, hoje vou falar da Paulicéia. Em realidade, sobre linguagens e maneirismos, é bem verdade que o baixo Rio de Janeiro inicia suas falas hoje, com um então, o que que acontece (sic).
Então, o que que acontece? Acontece que sou carioca
Continuar lendoTACITAMENTE,
crônica de Luciano de Castro
—Senhor Ronaldo, pode entrar, por gentileza. — Ah, obrigado. Hoje foi rápido, hein! —Sim. O Dr. Marcondes está aguardando o senhor. Segunda porta à direita.
Continuar lendo#históriasdaBlanche
O DROMEDÁRIO BAILARINO,
Blanche de Bonneval
… quando vi, de repente, um enorme dromedário aparecer na minha frente, saído do nada. Ele estava babando muito e literalmente dançando, dando voltinhas, cruzando as patas, escorregando no asfalto e dando saltos, antes de cair, levantar e recomeçar suas piruetas.
Continuar lendoBranco e Preto,
poema de Eder Quintão
Tua brancura
Como de flores
Nesta alvura
Exala odores
E cores reflete
Da pele pura
Que te reveste
De candura
Mas tua pele escura
Absorve as cores
E nesta labuta
Emana suores
Na dura luta
Da desventura
Que te enluta
Preta, pobre e puta
Continuar lendo#sextadepoesia
PRECE, UMA MAIS,
por Luciano de Castro
Senhor/dai-me um pé carregado
de esperanças maduras/dai-me o caminho da casa de minha vó/dai-me o pedaço de inocência que esqueci lá em Minas/dai-me um verso de Adélia Prado pra eu me aconchegar e chorar
#autoraconvidada
Luciana Assunção, em Psicoanálise
Poderia fazer uma coleção interminável de canecas e xícaras. /
Descobri que não gosto de quadros sem título./
O minimalismo não me afeta./
Prefiro os paradoxos da arquitetura bruta/ brocada de pensamento barroco.