Os vinte anos que juntos vivemos
deixaram em mim uma marca que é tua,
pois vezes há que já não sei
se o que sinto, sinto porque é meu
ou se tenho um sentimento que é teu.
O QUE EU TENHO PERDIDO?
perplexidades de Zulmara Salvador
Mas que título horrível! Só porque a pessoa fez sessenta anos, acha que pode se permitir falar de perdas? E as folhas que caem a cada inverno? Na primavera tenras, no outono amarelas? Caem no inverno…E aqueles répteis que duram um dia só: nascem, comem, acasalam e morrem? E as borboletas?
Continuar lendoÍMPAR, poema de Tita Ancona Lopez
Sou o ímpar que restou
do par que pouco fomos,
o sorriso que sobrou
do sonho que sonhamos.
O poema que não veio, de José Carlos Peliano
Um poema me chamou agora há pouco
acenou com o impulso e suas vibrações/me preparei com os dedos atentos/o laptop de boca aberta sorrindo/mas ele ainda não me veio
O alimento dos Ogros, crônica fantástica
de Liliana Wahba
Um promotor de Vitória, Espírito Santo, aconselha a mulher a ‘segurar o facho’ e voltar com o marido que a agride violentamente, acusado de tentativa de feminicídio. Alega que é necessário manter a união da família para proteger os cinco filhos do casal.
Continuar lendoOração,
poema em homenagem
às vítimas da tragédia no Rio Grande do Sul,
por Eder Quintão
Por onde andas tu oh Noé?
Chamam-no do distante sul
Lá pela serra do rio grande
Onde o céu não anda azul
#mães
Filho duplo
por José Carlos Peliano
À Leonor Pereira Peliano, minha mãe
Esta mãe não me tomou pelas mãos
e me fez dono do mundo
que me veio pelos meus pés de vento
e olhos de tela de cinema
#mães
Dia das Mães em quatro estações,
por Eder Quintão
Na primavera
Com carinho dela
Fui nela
Concebido
E nasci
Mudança, por Tita Ancona Lopez
Peguei a escova de dentes, mas deixei o vidro de shampoo e o sabonete líquido.
Propositalmente esqueci-me de um pé daquela meia branca com o desenho da Nike em azul.
Levei as roupas, mas deixei uma bolsa.
Os sapatos, levei todos.
Peguei meus papeis, minha caixa de recordações e os livros, porém, deixei dois, com frases marcadas e observações escritas a lápis, em muitas páginas.
TALVEZ EU MORRA HOJE, poema de Clemari Marques
Talvez eu morra hoje…
Talvez não.
Talvez o avião caia no meio de uma tempestade
E junto com raios, trovões e toneladas de chuva,
Talvez caiam por terra todos os meus projetos, sonhos, esperanças, expectativas, desejos…
Sim!
#sextadepoesia Hominivorax, de Luciano de Castro
todas as mesas
estavam ocupadas
homens, mulheres e crianças
comiam pedaços de outros bichos
pedaços fritos e assados
servidos em bandejas de prata.
#emprimeiramão
ÂNGELUS, poema de Maria Cristina Prandini, extraído do livro Ponto Segredo
Há um momento do dia
em que eu sinto a passagem do tempo
Líquido que escorre
Espesso
Ponteiros plúmbeos de um relógio que se distorce
ao sol.