Era uma lágrima
Nascida sofrendo
Desde sua partida
Logo se perdendo
Toda ressequida
Bahia, por Carlos de Castro
Um sacolejo forte desmanchou o devaneio. Trechos esburacados da estrada tornaram a viagem mais lenta e sacolejante até o desembarque, horas depois. Na noite quente da Bahia, três jovens mineiros, mochilas nas costas. Uma rápida exploração do entorno, um lanche na padaria – regado a muita cerveja – e se instalaram numa pousada próxima à rodoviária. O dia seguinte era dois de fevereiro: festa de Iemanjá. Téo não fazia ideia do que o esperava.
Continuar lendoSONHO DE SOLIDÃO, por Bettina Lenci
Sente um ardor no sexo e o arrepio lhe toma o corpo, a boca seca e o coração acelerado. Sabe da dor da ausência que teria que superar, mas até hoje não dominara. Ao contrário parecia que se densificava a cada acordar do cochilo no jardim do asilo.
Continuar lendo#avozices
Vó,
por Bettina Lenci
-“Vó, cuidado, tem um degrau ali”! – “Vó, deixa que eu carrego”! -“Vó, eu te acordo quando for a hora”! -“Vó, deixa que eu pego
Continuar lendo#avozices #essesnossosnetos
Soneto a neto
por Eder Quintão
(Para Bernardo P. Quintão)
Tece criança uma prece/Ao sol que paira perene/Grata quando amanhece/À luz que fornece solene/Sempre que à terra desce/E a noite logo esmorece
Moça branca da cidade, por ELISABETH FERRONI, nossa autora convidada
Wekanã tenta mergulhar a cabeça, limitado pelas boias de braço que coloco todas as manhãs, receosa de que meu filho se afogue em mar sem ondas. O esforço vale a pena pelo sorriso que me devolve. Pele morena avermelhada, olhos grandes pretos, cabelo preto liso, franja curta. Corte tipo tigela, era como eu e minhas colegas de faculdade costumávamos chamar aquelas cabeças indígenas na primeira vez que cheguei por aqui.
Continuar lendoA VISITANTE, conto de Zulmara Salvador
– Uai. Todo mundo tem meio medo da gente, da minha cara sem dentes, do cachorro sarnento.
– Ele morde?
– Não. O coitado nem tem mais dente. Que nem eu.
– Pena. Cachorro sem dente sofre mais que gente. Mais que gente sem dente.
– Aí a senhora falô coisa certa, viu? Eu me viro. Ele fica lambendo os osso que o Freire dá, num desespero.
CONTRAFACE, poema de Luciano de Castro
contraface con.tra.fa.ce
nome feminino
1. lado oposto à face frontal
2. superfície que se situa no lado oposto ao que se observa; reverso
3. figurado aquilo que é oposto a; contrário
4. figurado parte de algo que está oculta ou escondida
Dois poemas de amor, por Silvia Ancona Lopez
Os vinte anos que juntos vivemos
deixaram em mim uma marca que é tua,
pois vezes há que já não sei
se o que sinto, sinto porque é meu
ou se tenho um sentimento que é teu.
O QUE EU TENHO PERDIDO?
perplexidades de Zulmara Salvador
Mas que título horrível! Só porque a pessoa fez sessenta anos, acha que pode se permitir falar de perdas? E as folhas que caem a cada inverno? Na primavera tenras, no outono amarelas? Caem no inverno…E aqueles répteis que duram um dia só: nascem, comem, acasalam e morrem? E as borboletas?
Continuar lendoÍMPAR, poema de Tita Ancona Lopez
Sou o ímpar que restou
do par que pouco fomos,
o sorriso que sobrou
do sonho que sonhamos.
O poema que não veio, de José Carlos Peliano
Um poema me chamou agora há pouco
acenou com o impulso e suas vibrações/me preparei com os dedos atentos/o laptop de boca aberta sorrindo/mas ele ainda não me veio